domingo, 29 de agosto de 2010

Meu quintal é minha rua


Nos felizes dez anos da minha vida que passei no bairro Palmeiras, região oeste da minha querida BH, curti ao máximo o fato de minha casa ter um quintal, e bem grande! E de todas as alegrias que o quintal mais me proporcionava, o canto dos pássaros era sem dúvida a do topo da lista.

Como um desafiador da madrugada, tive o privilégio de observar o amanhecer do dia por diversas vezes. E parecia que os instrumentos, ou seja, os pássaros, seguiam uma ordem previamente estabelecida e perfeitamente ensaiada. Primeiro, as garrinchas e os bem-te-vis. A eles, somavam-se os pardais com seu pio, dependendo da época o sabiá, e, por volta das 7h, um bando de maritacas aparecia voando e fazendo uma grande festa. Aquilo tudo era música aos meus ouvidos, tanto quanto a Nona de Beethoven ou um belo tema de Miles Davis. Eu costumava dizer que eu tinha inúmeros passarinhos em casa, mas todos soltos, que iam e vinham quando tinham vontade, exatamente como tem que ser.

Quando me mudei para Brasília, em novembro do ano passado, fiquei pensando nas perdas que teria. Não é fácil mudar de casa para apartamento, sobretudo apartamentos pequenos. Mas uma das coisas que me preocupava realmente era se eu teria a presença dos pássaros tão perto de mim. Achava que não. Para minha alegria, eu estava errado.

Brasília é uma cidade que tem como característica marcante a disponibilidade de áreas verdes. Além do famoso Parque da Cidade, imortalizado na canção Eduardo e Mônica, de Renato Russo, as quadras residenciais do Plano Piloto possuem muitos espaços arborizados. E onde existem árvores, lá estão os pássaros para fazer sua festa sobre os galhos. As quadras numeradas com a centena 700 (para entender como funciona a numeração das quadras é preciso um artigo a parte) são constituídas por casas geminadas, com espaços bastante amplos na frente, sem muros em grande parte delas. Nesses quintais de frente, também há árvores e muitos pássaros.

Perto do prédio onde moro, o joão-de-barro é o primeiro a dar o tom da orquestra. A ele, segue-se o bem-te-vi e os pardais, mais uma turma de outras aves cujo som não conheço bem.

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As fotos deste post são de anus, aves que geralmente andam em bandos e são excelentes caçadoras de insetos. Quando estão se alimentando, não fazem muito barulho, mas seu som de alerta é bem característico. Essas aves também aparecem muito por aqui.

Fico muito feliz pelo fato de poder continuar a desfrutar da companhia dos pássaros. Se não os posso ter mais no quintal da minha casa, então que a rua seja meu quintal! Em Brasília, essa é uma grande verdade. Os espaços de convivência são muitos e a rua, o parque, os jardins, tudo acaba se transformando num grande quintal para todos nós. Espero que saibamos cuidar dele.

sábado, 21 de agosto de 2010

Quem é o vencedor?


Assistir à derrota de um campeão não é algo bom, sobretudo quando se sabe que o atleta em questão é um dos maiores motivos de orgulho para o Brasil nos últimos tempos. Nesta noite de sábado, César Cielo (foto 1) ficou com a medalha de prata na final A dos 50 m nado livre, no Pan-Pacífico de natação, que está sendo disputado na Califórnia, EUA. E, como é seu costume, ele não ficou satisfeito com outro resultado que não fosse a vitória.

A frustração por não ficar em primeiro lugar em uma competição, a cobrança de si próprio por um melhor rendimento, o inconformismo diante de um resultado que, para o torcedor, não parece ruim, mas para o atleta é sim uma derrota, tudo isso pode parecer uma certa presunção ou arrogância de quem não sabe perder. Mas o fato é que o sentimento contrário, ou seja, a sensação de dever cumprido ao se conquistar um segundo ou um terceiro lugar, a celebração de um vice-campeonato como se um título fosse, são elementos que contribuem fortemente para o mau desempenho de alguns atletas brasileiros em competições de alta performance. O que faz de César Cielo um campeão não é só seu grande talento e capacidade de rendimento como atleta, mas o fato de reconhecer em si mesmo um campeão e não aceitar a derrota como um resultado normal. Pode ser normal se o atleta se preparou para a prata, o bronze, ou simplesmente pela classificação para a final. Mas, para quem se prepara para o ouro, a prata não pode ser considerada normal.

Então, o Montanha está dizendo que só é vencedor quem ganha a medalha de ouro? Certamente não. Estou dizendo que só é vencedor quem atinge a sua meta. Um exemplo é o bronze da Fabíola Molina conquistado na noite de quinta-feira, no mesmo torneio, nos 50 m costas. Para uma atleta de 35 anos, competindo com garotas até com menos da metade de sua idade, o terceiro lugar é uma vitória. Afinal, ela tem plena consciência de que a idade é um fator que diminui seu rendimento frente às concorrentes e que ela muito provavelmente está fora da briga pelo ouro. Assim, sua meta é buscar o melhor resultado possível, de preferência uma medalha, diante da desvantagem que tem. E Fabíola Molina conseguiu!

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Creio que o melhor exemplo que posso dar em contraposição a César Cielo é o de Felipe Massa (foto 2). A polêmica sobre a ultrapassagem amigável de Fernando Alonso, no dia 25 de julho último, assim como ocorreu com Rubens Barrichello e Schumacher em 2002, mostra um tipo de esportista infelizmente cada vez mais comum: que coloca o dinheiro acima de sua honra como atleta e de sua ética desportiva, que não têm o devido apreço pela vitória ou as duas coisas juntas. Nunca torci por Felipe Massa por não o considerar um grande piloto. Mas o episódio com Alonso mostrou o comodismo de alguém que não quer arriscar a conta bancária em nome de um reconhecimento por agir de maneira ética. Pior: a punição de apenas Us$100 mil aplicada à Ferrari mostra que a Federação Internacional de Automobilismo é conivente com essa prática.

A postura de vítima adotada por Massa e por parte da imprensa brasileira não escondem o fato de que, tanto quanto Alonso e a Ferrari, o piloto brasileiro foi responsável pelo que aconteceu no Grande Prêmio da Alemanha de F-1. O que a FIA deveria ter feito, a meu ver, seria retirar os pontos da Ferrari no mundial de construtores e igualmente dos dois pilotos na competição, promovendo cada um dos demais pilotos em duas posições na linha de chegada. Assim, o terceiro colocado seria declarado vencedor, o quarto ficaria em segundo e assim por diante.

A questão é, portanto, muito mais complexa do que ser primeiro ou segundo lugar. Não pode ser considerado vencedor o atleta que, tendo as condições físicas e técnicas para estar em primeiro lugar, não tem a vitória como único e exclusivo alvo. Não pode ser perdedor o atleta que não chega em primeiro, mas sabe que, por uma limitação qualquer, não poderia ir além e chegou ao melhor resultado possível. Massa é um piloto jovem, tem um ótimo carro e experiência considerável. Tem portanto os requisitos para ser vencedor, mas não é. César Cielo também tem os requisitos para ser campeão e, quando isso não acontece, ele não se conforma. E é por isso que ele é um vencedor.

A gente fica cansado de tanto escutar o hino dos Estados Unidos nas competições internacionais e se esquece de perguntar o porquê. É porque o espírito esportivo do norte-americano está baseado no pressuposto de que é preciso vencer, não apenas competir, como foi o caso da ginasta, cujo nome não recordo, que terminou sua série e saiu carregada, chorando com dores insuportáveis, mas conquistou o ouro para o seu país.

Alguém já disse que o segundo colocado é só o primeiro entre os perdedores. É claro que o pensamento é radical e intolerante demais e o torcedor não deve adotar essa idéia como filosofia. Mas, para o atleta, um pouco de radicalismo, de obsessão pela vitória, não faz mal nenhum. E se não nos conformássemos tanto com resultados medianos, talvez nossa performance em grandes competições, como os Jogos Olímpicos, seria melhor.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Vida longa aos gatos, pretos ou não, e uma ótima sexta-feira 13!


Desde pequeno, eu sempre tive um macabro interesse por histórias macabras. Não é por acaso que sou fã da série Twilight Zone, sobretudo das histórias feitas para o rádio, que despertavam mais ainda a imaginação da gente. Mas, ao contrário de muita gente, que tem um certo receio ou medo de ouvir ou assistir a esse tipo de drama, eu encaro tudo com muito humor e, quanto maior o medo que a história possa causar, mais eu acho interessante. Acho que o melhor lugar e hora para se contar uma história verdadeiramente aterrorizante é em um lugar escuro como o nosso quarto ou a sala, à meia-noite e de preferência com bastante frio e vento lá fora.

E se há uma coisa que não falta numa sexta-feira 13, como hoje, são histórias macabras, envolvendo gatos pretos, caveiras, cemitérios, fantasmas e tudo mais. Mas por que será que o número 13, e especificamente na sexta-feira, tem tanta influência sobre as ações dos mais supersticiosos? Por que tem gente que não fecha negócios numa sexta-feira 13? Outros não viajam, não saem de casa, não passam em determinados lugares... Enfim, o que não falta é gente que, de uma maneira ou de outra, muda suas atitudes por causa da combinação do dia da semana e do dia do mês.

Não tenho a resposta para isso e sinceramente não vou empreender uma pesquisa minuciosa para buscar alguma resposta convincente. Mas uma das coisas que se comenta por aí é que a má fama do número 13 está ligada à Última Ceia, episódio que marcou a despedida de Jesus dos seus discípulos, pouco antes de sua crucificação e morte. Segundo os evangelhos, Jesus se reuniu com seus discípulos para celebrar a Páscoa, que, na tradição judaica, marca a saída do povo hebreu do Egito e o retorno à terra de Canaan, sob a liderança de Moisés. Pois bem: o número 13 não aparece na narrativa da Última Ceia, mas nem precisa. Se lá estavam apenas Jesus e os seus discípulos, que eram 12, fica fácil deduzir que havia 13 pessoas à mesa naquela noite. Não nos esqueçamos ainda que foi durante a ceia que Jesus anunciou que seria traído por um dos 12. Para completar, a história diz que a crucificação se deu numa sexta-feira.

Existem ainda duas lendas de origem nórdica que explicam a má fama da sexta-feira 13 ou, mais especificamente, do número 13 como sinal de azar, mas não vou entrar em detalhes sobre elas. Prefiro falar do gato preto! Pobre animal! Desde o início da idade moderna, por volta do século XVI, que o gato preto ganhou fama de trazer má sorte. Conta-se que, pela sujeira muito grande das cidades européias nesse período, e pelo consequente aumento da população de ratos, não faltava alimentos aos gatos, que por sua vez também se multiplicavam. Gatos de todas as cores, mas foi o gato preto que acabou associado à feitiçaria e foi duramente perseguido. Acreditem: um decreto do Papa Inocêncio VIII considerava o gato preto um ser erege. Por isso, vários deles foram queimados na Inquisição, junto com os humanos considerados feiticeiros.

Por causa de todas essas crendices, a sexta-feira 13 e o pobre gato preto ganharam fama de trazerem azar. Para mim, nada muda, exceto pela vontade de abordar o tema numa postagem do blog. E, se algo acontece de errado na sexta-feira 13, não credito o ocorrido ao dia da semana ou do mês, mas é claro que aproveito a situação para tirar onda. Um dos fatos mais inusitados de que me lembro foi em 1984, quando viajamos de BH para o Rio de Janeiro minha irmã, meu pai, minha mãe e eu, a fim de passar alguns dias de férias. Era no dia 13 de janeiro, sexta-feira, que o trem Vera Cruz nos levaria. A partida estava marcada para as 20h15, mas, por causa de defeitos no sistema de refrigeração, partimos com mais de duas horas de atraso. Não houve quem não brincasse com a situação, afirmando que havia um gato preto embaixo do trem, segurando a partida. Quanto poder pode ter um gato preto!!!

Mas, se a sexta-feira 13, à meia-noite, já é motivo para assustar alguns, imagine a sexta-feira 13 com duas meia-noites! Pois o fato aconteceu, no Brasil, em 1987. Normalmente, tanto o início como o fim do horário de verão acontecem na noite de sábado para domingo. Não me pergunte o porquê, mas, em 1987, o fim do horário de verão ocorreu na noite de sexta-feira para sábado, exatamente do dia 13 para o dia 14 de fevereiro. É por isso que a sexta-feira, 13 de fevereiro de 1987, teve, no seu término, duas meia-noites, já que, quando os relógios marcavam 0h, foram atrasados em uma hora, voltando às 23h, chegando novamente, dentro de uma hora, às 0h. Ou seja, a sexta-feira não só teve duas vezes a marcação de 0h, como durou 25 horas! Uma hora a mais de terror para os supersticiosos!

E o vírus de computador mais famoso da história? Alguém se lembra do lendário Sexta-Feira 13? Era um verdadeiro pânico, e pane, causados em sistemas informatizados pelo mundo a fora. Toda sexta-feira 13, o vírus atacava bancos de dados e causava enorme destruição em discos rígidos, causando um prejuízo assustador em empresas no mundo inteiro.

No fim disso tudo, só acho uma tremenda injustiça colocar a responsabilidade nos gatos pretos pelo azar, ou má sorte, ou o que quer que seja. Acreditar em mitos ou lendas é um direito de qualquer pessoa, mas os animais não precisam sofrer por causa da superstição dos humanos. Atualmente, tanto as associações que cuidam de animais abandonados quanto os centros de controle de zoonoses estão atentos e, quando aparece alguém querendo um gato preto para criar, esses animais não são liberados em datas próximas à sexta-feira 13. Boa atitude. Infelizmente, ainda tem gente que deseja levar sua crença aos extremos ou têm mesmo um espírito cruel. Não tenho gatos e não tenho vontade de tê-los. Mas tenho um grande respeito por eles e sou contra qualquer tipo de crueldade contra qualquer animal. Ao contrário do que se diz, gato não tem sete vidas. Tem apenas uma, e é preciso preservá-la. Pretos ou de qualquer outra cor, vida longa aos gatos e que a sexta-feira 13, deles e nossa, seja repleta de muitas coisas boas.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Só faltou dizer que a nova Amarelinha é perfeita

Passam as copas, mas não muda a mentalidade do torcedor brasileiro: em time que está perdendo, deve-se mexer e muito. A verdadeira babação que se criou em torno da chamada Nova Seleção Brasileira, sob o comando de Mano Meneses, não passa de repetição, talvez amplificada, do que se passou logo depois de uma eliminação do Brasil nas 12 copas que não ganhamos. Talvez, a seleção de 1982 tenha sido exceção, tanto que o o treinador Telê Santana voltou a dirigir a Amarelinha quatro anos depois, no México. Mas, de derrota em derrota, a conversa é sempre a de que está tudo, mas tudo mesmo, errado e uma renovação é necessária.

Não foi diferente em 2006, logo depois do fiasco, já previsto por quem entende minimamente de futebol, da seleção sob o comando de Carlos Alberto Parreira. Quando Dunga iniciou seu trabalho, a esperança de uma nova seleção tomou conta de todos, a imprensa especialmente. Mesmo com a reserva pelo fato de Dunga jamais ter sido técnico de um time de várzea que fosse, havia o discurso quase unânime de que, por ser um jogador de grandes conquistas, por ter um título mundial na bagagem, o capitão do tetra faria um trabalho empolgante. E começou assim, com a convocação de inúmeros jogadores que não haviam sido chamados por Parreira, mas que o público e a mídia afirmavam que deveriam estar na seleção. O casamento não durou muito. A seleção não ia muito bem na primeira fase das eliminatórias para a Copa da África do Sul e as vaias ao time começaram a aparecer nos estádios. Mas a vitória na Copa América e na Copa das Confederações, somada à ótima campanha do Brasil na segunda fase das eliminatórias fizeram o torcedor voltar a confiar na seleção.

Quando a base da seleção para a Copa estava formada, depois do título da Copa das Confederações, apareceram os tais "Meninos da Vila" e a pressão pela convocação de Ganso e Neymar para a seleção foi enorme, até o dia da divulgação da lista final. Dunga não cedeu e preferiu apostar na base que havia montado. Já escrevi, quando da convocação, que Dunga acertou a mão ao não convocar os jovens talentos do Santos, em primeiro lugar porque nunca havia trabalhado com eles, portanto seria uma primeira convocação e diretamente para a Copa do Mundo. Em segundo lugar, porque a seleção já havia feito um trabalho de quatro anos e portanto tinha um esquema tático, que seria mudado caso os garotos fossem convocados. Fato é que Dunga acertou e errou (para mim, acertou mais do que errou) em sua passagem pela seleção. Talvez, alguns dos erros lhe tenham custado a Copa 2010, mas, insisto, a trajetória dele pela Amarelinha foi vitoriosa.

Agora, depois da eliminação contra a Holanda na África do Sul, a história se repete. É claro que eu esperava um certo ufanismo da parte dos responsáveis pela transmissão do jogo do Brasil contra os Estados Unidos, que aconteceu na noite dessa terça-feira. Mas confesso que fiquei surpreendido com o que assisti. À medida em que o jogo foi se desenrolando e a seleção venceu o nvervosismo inicial e começou a jogar bem, parecia que estávamos diante de um espetáculo jamais visto, tal era a intensidade e o tom dos elogios feitos ao time. Expressões como "resgate do futebol arte", "o jeito brasileiro de jogar", "uma nova Seleção Brasileira" etc., foram repetidas à exaustão.

Acabado o jogo, quando pensei que as análises viriam com um pouco mais de frieza e objetividade e com menos apaixonite, notei que o objetivo dos comentaristas e do narrador Luiz Carlos Junior, do SporTV, era convencer de que essa seleição que iniciou seu trabalho nesse amistoso é a seleção que o povo brasileiro, de quem a imprensa costuma se julgar porta-voz, desejava ver em campo. Logo no início da transmissão, o comentarista Paulo César Vasconcelos disse que a seleção era muito promissora, em primeiro lugar, porque tinha três jogadores do Santos. Então, se tivesse 22, ou seja, todos os titulares e reservas da Vila Belmiro, o time seria imbatível? Impressionante também como tudo que o treinador Mano Meneses fazia ou dizia estava correto, cheio de razão. Nos comentários finais, até mesmo o fato de o Brasil ter desperdiçado inúmeras oportunidades de gol, no segundo tempo, foi encarado como positivo pelos comentaristas. Afinal, diziam, foi uma equipe que não perdeu o ritmo de jogo na etapa complementar, manteve a pegada. Só não foi feliz na finalização.

Fato é que uma coisa é perder gols contra a seleção dos Estados Unidos que, mesmo tendo melhorado muito nos últimos anos, apresenta várias fragilidades. Outra coisa é perder gols contra uma seleção que, se tiver oportunidade, não perdoa. Será que, se o Brasil perder tantos gols contra a Espanha, não correremos o sério risco de tomarmos gols? Mas, tirando as críticas pelos constantes erros de passe do lateral Daniel Alves, o Brasil, na visão dos comentaristas do SporTV, parecia não ter defeitos. E mais, mesmo com a estreia de vários jogadores com a camisa da seleção, Neymar e Ganso eram os destaques citados. Nem mesmo Alexandre Pato, que fez um golaço e jogou uma excelente partida, mesmo tendo vindo de contusão, só foi elogiado pelo comentarista quando o narrador perguntou sobre a atuação do jogador.

Não estou aqui para dizer que a seleção que atuou diante dos Estados Unidos não merece elogios. Ao contrário, merece, tanto pelo futebol ofensivo que apresentou, quanto por não deixar de marcar, tanto que as jogadas ofensivas dos norte-americanos foram poucas. Mas é preciso mais cuidado ao analisar esse jogo do que tiveram os meus colegas do SporTV. Em primeiro lugar, porque uma seleção que treinou apenas por dois dias não tem como definir um esquema tático. Nenhum treinador, por mais mágico que seja, implanta uma filosofia de trabalho em dois dias. Portanto, dizer que essa seleção tem a cara do Mano Meneses é, no mínimo, precipitação e falta de conhecimento sobre futebol. Ora, se não há um esquema tático, o que deve fazer um técnico de bom senso? Interferir o mínimo possível na capacidade dos talentos individuais do time, ou seja, deixar o time jogar. E aí, claro, os talentosos se destacam.

No decorrer e depois do jogo, fiquei acompanhando as manifestações no Twitter, praticamente todas muito empolgadas, afirmando, dentre outras coisas, que os 45 minutos do primeiro tempo do amistoso valeram mais do que toda a Copa da África. Nada contra a manifestação das pessoas. Aliás, acho até muito positivo que o torcedor se identifique com a sua seleção. O torcedor é um apaixonado por excelênvia e é assim que deve agir sempre. Mas a imprensa, esta tem por obrigação informar e opinar, mas com informações embasadas. É por isso que considero lamentável o festival de frases prontas e repetitivas protagonizado pela equipe do SporTV. Deixem a missão de se apaixonar para o povo. Quanto ao time de Mano Meneses, vamos ver, daqui para frente, como os "Meninos da Vila" se saem debaixo de um rigoroso esquema tático que, certamente, Mano Meneses vai implementar no Brasil a partir de agora. Aguardemos, mas sem empolgação exagerada.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A língua da Rafaela e o Montanha sumido!

Se alguém acha que a Rafaela do título é a personagem chatíssima de "Viver a Vida", interpretada com muita propriedade pela atriz mirim Clara Castanho, engana-se e muito. Trata-se de outra língua solta, também chamada Rafaela, também pequena, mas não por ser criança, e uma grande amiga que fiz no tempo em que trabalhava no Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Estou falando da jornalista Rafaela Freitas, uma das primeiras pessoas a visitar este blog e que já foi de cara fazendo um comentário com jeitão de "quem avisa amigo é". Disse a Rafaela que esperava que eu não a imitasse, criando blogs por aí e deixando todos abandonados. Com saltos de alegria por ter criado o blog, ignorei solenemente os comentários da moça, julgando que isso jamais ocorreria comigo.

Mas aqui estou eu, quase três meses depois da última postagem, turista do meu próprio blog, tentando retomar a "carreira". Ôh, língua! A verdade é que eu tenho várias justificativas para ter ficado tanto tempo sem escrever, todas obviamente estapafúrdias. São aquelas desculpas que explicam, mas não justificam, se é que me faço entender.

Logo depois da convocação da Seleção do Dunga, objeto dos meus dois últimos e longos comentários, fui absorvido pela rotina da procura de um apartamento para alugar. Ocorre que, desde que eu me mudara para Brasília, estava morando em um flat, já que minha esposa, por conta do vínculo com seu trabalho, continuou em Belo Horizonte por um bom tempo. Assim, durante o mês de maio, minha rotina era levantar cedo, vasculhar sites de imobiliárias, telefonar, buscar as chaves do imóvel, visitar, achar o apartamento um ovo ou uma espelunca, devolver as chaves e ir trabalhar, achando cada vez mais difícil minha tarefa heróica de encontrar um lugar ao menos agradável para morar. No final do mês, a busca resultou em algo frutífero, que é o apartamento onde estou morando atualmente, na Asa Norte. A mudança para o novo lar se deu na véspera da Copa do Mundo: uma semana sem Internet e telefone. A única coisa que me aprecei muito em colocar foi a TV por assinatura, para não ter que aguentar o Galvão Bueno de um lado e o Luciano do Valle do outro, na melancólica transmissão da Copa.

Bem, achei que a Copa do Mundo fosse me dar muita inspiração para escrever, mas acho que a Jabulane acertou a minha cabeça e as Vuvuzelas fundiram o meu cérebro, além da qualidade de alguns jogos que, convenhamos, funcionaram como fonte de desinspiração.

Acabou a Copa, voltou o Brasileirão e eu não sei mais se me sentava para esperar a próxima Copa, ou se encarava o gosto amargo de ver o meu time decepcionar mais a cada jogo.

Mas, tanto na vida como na blogosfera, as desculpas que inventamos para desaparecer por um tempo nada mais são do que uma tentativa, sempre frustrada, de disfarçar a nossa crise existencial, repito, seja ela no mundo presencial ou virtual. Mas, pelo menos para mim, sempre chega o momento em que percebo que a vida e a blogosfera são coisas muito boas, que valem a pena e para as quais a gente deve dedicar um tempo. Afinal, dizer o que se pensa e, principalmente, poder dizê-lo, ter um espaço para manifestar nossa opinião ou contar nossas aventuras pela vida afora, tudo isso é sempre muito agradável.

ortanto, e apesar da língua da minha amiga Rafa Freitas, e para quem não aguentava mais ficar sem os pitacos do Montanha (quanta humildade!), digo aos meus 15 seguidores e outros poucos ou tantos leitores que estou de volta! O fogão e a frigideira estão prontos e o Mexidão vai voltar a sair!