terça-feira, 6 de abril de 2010

As coisas não eram assim...

Até o momento, já foram registradas 77 mortes por causa das chuvas de ontem e hoje no Rio de Janeiro. E quando nos deparamos com tragédias como essa, começamos a fazer exercício de escatologia, prevendo que o mundo de fato está no seu fim. Nesses momentos, aparecem os que acham mesmo que a Terra caminha para os seus derradeiros dias e, no outro extremo, os que consideram os ambientalistas verdadeiros terroristas da ecologia e afirmam que a coisa não é tão feia quanto parece.

Não obstante as posições extremas de parte a parte, fato é que, quando olhamos para a história, percebemos que as tragédias - muitas delas causadas por fenômenos naturais - sempre aconteceram. O que muda, no entanto, é a frequência com que esses "incidentes", vêm ocorrendo. Quem não se lembra das cheias que arrazaram o sul do Brasil em 1983, ou do longo período que o nordeste ficou sem uma gota sequer de chuva, também nos anos 80? Mas esses fenômenos eram tão isolados que passavam semanas ocupanndo as primeiras páginas dos jornais. Atualmente, o que se vê é que os acontecimentos trágicos se sucedem, de modo que, mal a imprensa repercute um deles, o outro já está acontecendo e tomando o lugar de destaque nos noticiários.

Só no ano de 2010, tivemos os deslisamentos de terra em Angra dos Reis (logo na virada do ano, diga-se), os terremotos no Haiti, com mais de 250 mil mortos, e no Chile, que só não foi mais trágico porque o país é mais bem estruturado. Em São Paulo, foram mais de 30 dias com chuvas diárias, sempre causando alagamentos, destruição e morte. Agora, mal o mês de abril começa, o Rio de Janeiro vive mais um acontecimento provocado pelas chuvas, com esse gigantesco número de vítimas fatais.

Tentando não enveredar pelo caminho do senso comum, mas ao mesmo tempo tentando simplificar a discussão, três fatores são, se não determinantes, muito importantes para explicar o que está acontecendo no mundo. A ação da natureza, que está realmente mais dura, a incompetência das autoridades políticas, que, mesmo sabendo dos riscos que a população corre por causa dos fenômenos naturais, se mostram indiferentes, e a ação humana sobre a natureza, que está, sim, contribuindo para as mudanças climáticas que estamos experimentando. E, se pararmos para pensar, tudo isso se resume em um só fator: o homem.

Se alteramos a nossa relação com a natureza, não poderíamos esperar que ela agisse conosco como o fazia antes. Fora os terremotos, que dependem menos da ação humana, ocorrências como as grandes tempestades e os intermináveis incêndios nas florestas são resultado direto de nossa ação sobre o meio ambiente. E para completar, as providências que poderíamos tomar para minimizar os efeitos das tragédias naturais não são tomadas. O resultado é que esses fenômenos são cada vez mais frequentes e os seus efeitos cada vez mais devastadores. E se alguém pergunta: mas não foi sempre assim? Minha resposta é: não, as coisas não eram assim. E o mais preocupante é saber que ainda há quem diga que a Amazônia não foi tão agredida como se diz, como se o constante processo de degradação da floresta fosse apenas um conto de fadas.

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