sábado, 21 de agosto de 2010

Quem é o vencedor?


Assistir à derrota de um campeão não é algo bom, sobretudo quando se sabe que o atleta em questão é um dos maiores motivos de orgulho para o Brasil nos últimos tempos. Nesta noite de sábado, César Cielo (foto 1) ficou com a medalha de prata na final A dos 50 m nado livre, no Pan-Pacífico de natação, que está sendo disputado na Califórnia, EUA. E, como é seu costume, ele não ficou satisfeito com outro resultado que não fosse a vitória.

A frustração por não ficar em primeiro lugar em uma competição, a cobrança de si próprio por um melhor rendimento, o inconformismo diante de um resultado que, para o torcedor, não parece ruim, mas para o atleta é sim uma derrota, tudo isso pode parecer uma certa presunção ou arrogância de quem não sabe perder. Mas o fato é que o sentimento contrário, ou seja, a sensação de dever cumprido ao se conquistar um segundo ou um terceiro lugar, a celebração de um vice-campeonato como se um título fosse, são elementos que contribuem fortemente para o mau desempenho de alguns atletas brasileiros em competições de alta performance. O que faz de César Cielo um campeão não é só seu grande talento e capacidade de rendimento como atleta, mas o fato de reconhecer em si mesmo um campeão e não aceitar a derrota como um resultado normal. Pode ser normal se o atleta se preparou para a prata, o bronze, ou simplesmente pela classificação para a final. Mas, para quem se prepara para o ouro, a prata não pode ser considerada normal.

Então, o Montanha está dizendo que só é vencedor quem ganha a medalha de ouro? Certamente não. Estou dizendo que só é vencedor quem atinge a sua meta. Um exemplo é o bronze da Fabíola Molina conquistado na noite de quinta-feira, no mesmo torneio, nos 50 m costas. Para uma atleta de 35 anos, competindo com garotas até com menos da metade de sua idade, o terceiro lugar é uma vitória. Afinal, ela tem plena consciência de que a idade é um fator que diminui seu rendimento frente às concorrentes e que ela muito provavelmente está fora da briga pelo ouro. Assim, sua meta é buscar o melhor resultado possível, de preferência uma medalha, diante da desvantagem que tem. E Fabíola Molina conseguiu!

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Creio que o melhor exemplo que posso dar em contraposição a César Cielo é o de Felipe Massa (foto 2). A polêmica sobre a ultrapassagem amigável de Fernando Alonso, no dia 25 de julho último, assim como ocorreu com Rubens Barrichello e Schumacher em 2002, mostra um tipo de esportista infelizmente cada vez mais comum: que coloca o dinheiro acima de sua honra como atleta e de sua ética desportiva, que não têm o devido apreço pela vitória ou as duas coisas juntas. Nunca torci por Felipe Massa por não o considerar um grande piloto. Mas o episódio com Alonso mostrou o comodismo de alguém que não quer arriscar a conta bancária em nome de um reconhecimento por agir de maneira ética. Pior: a punição de apenas Us$100 mil aplicada à Ferrari mostra que a Federação Internacional de Automobilismo é conivente com essa prática.

A postura de vítima adotada por Massa e por parte da imprensa brasileira não escondem o fato de que, tanto quanto Alonso e a Ferrari, o piloto brasileiro foi responsável pelo que aconteceu no Grande Prêmio da Alemanha de F-1. O que a FIA deveria ter feito, a meu ver, seria retirar os pontos da Ferrari no mundial de construtores e igualmente dos dois pilotos na competição, promovendo cada um dos demais pilotos em duas posições na linha de chegada. Assim, o terceiro colocado seria declarado vencedor, o quarto ficaria em segundo e assim por diante.

A questão é, portanto, muito mais complexa do que ser primeiro ou segundo lugar. Não pode ser considerado vencedor o atleta que, tendo as condições físicas e técnicas para estar em primeiro lugar, não tem a vitória como único e exclusivo alvo. Não pode ser perdedor o atleta que não chega em primeiro, mas sabe que, por uma limitação qualquer, não poderia ir além e chegou ao melhor resultado possível. Massa é um piloto jovem, tem um ótimo carro e experiência considerável. Tem portanto os requisitos para ser vencedor, mas não é. César Cielo também tem os requisitos para ser campeão e, quando isso não acontece, ele não se conforma. E é por isso que ele é um vencedor.

A gente fica cansado de tanto escutar o hino dos Estados Unidos nas competições internacionais e se esquece de perguntar o porquê. É porque o espírito esportivo do norte-americano está baseado no pressuposto de que é preciso vencer, não apenas competir, como foi o caso da ginasta, cujo nome não recordo, que terminou sua série e saiu carregada, chorando com dores insuportáveis, mas conquistou o ouro para o seu país.

Alguém já disse que o segundo colocado é só o primeiro entre os perdedores. É claro que o pensamento é radical e intolerante demais e o torcedor não deve adotar essa idéia como filosofia. Mas, para o atleta, um pouco de radicalismo, de obsessão pela vitória, não faz mal nenhum. E se não nos conformássemos tanto com resultados medianos, talvez nossa performance em grandes competições, como os Jogos Olímpicos, seria melhor.

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