Passam as copas, mas não muda a mentalidade do torcedor brasileiro: em time que está perdendo, deve-se mexer e muito. A verdadeira babação que se criou em torno da chamada Nova Seleção Brasileira, sob o comando de Mano Meneses, não passa de repetição, talvez amplificada, do que se passou logo depois de uma eliminação do Brasil nas 12 copas que não ganhamos. Talvez, a seleção de 1982 tenha sido exceção, tanto que o o treinador Telê Santana voltou a dirigir a Amarelinha quatro anos depois, no México. Mas, de derrota em derrota, a conversa é sempre a de que está tudo, mas tudo mesmo, errado e uma renovação é necessária.
Não foi diferente em 2006, logo depois do fiasco, já previsto por quem entende minimamente de futebol, da seleção sob o comando de Carlos Alberto Parreira. Quando Dunga iniciou seu trabalho, a esperança de uma nova seleção tomou conta de todos, a imprensa especialmente. Mesmo com a reserva pelo fato de Dunga jamais ter sido técnico de um time de várzea que fosse, havia o discurso quase unânime de que, por ser um jogador de grandes conquistas, por ter um título mundial na bagagem, o capitão do tetra faria um trabalho empolgante. E começou assim, com a convocação de inúmeros jogadores que não haviam sido chamados por Parreira, mas que o público e a mídia afirmavam que deveriam estar na seleção. O casamento não durou muito. A seleção não ia muito bem na primeira fase das eliminatórias para a Copa da África do Sul e as vaias ao time começaram a aparecer nos estádios. Mas a vitória na Copa América e na Copa das Confederações, somada à ótima campanha do Brasil na segunda fase das eliminatórias fizeram o torcedor voltar a confiar na seleção.
Quando a base da seleção para a Copa estava formada, depois do título da Copa das Confederações, apareceram os tais "Meninos da Vila" e a pressão pela convocação de Ganso e Neymar para a seleção foi enorme, até o dia da divulgação da lista final. Dunga não cedeu e preferiu apostar na base que havia montado. Já escrevi, quando da convocação, que Dunga acertou a mão ao não convocar os jovens talentos do Santos, em primeiro lugar porque nunca havia trabalhado com eles, portanto seria uma primeira convocação e diretamente para a Copa do Mundo. Em segundo lugar, porque a seleção já havia feito um trabalho de quatro anos e portanto tinha um esquema tático, que seria mudado caso os garotos fossem convocados. Fato é que Dunga acertou e errou (para mim, acertou mais do que errou) em sua passagem pela seleção. Talvez, alguns dos erros lhe tenham custado a Copa 2010, mas, insisto, a trajetória dele pela Amarelinha foi vitoriosa.
Agora, depois da eliminação contra a Holanda na África do Sul, a história se repete. É claro que eu esperava um certo ufanismo da parte dos responsáveis pela transmissão do jogo do Brasil contra os Estados Unidos, que aconteceu na noite dessa terça-feira. Mas confesso que fiquei surpreendido com o que assisti. À medida em que o jogo foi se desenrolando e a seleção venceu o nvervosismo inicial e começou a jogar bem, parecia que estávamos diante de um espetáculo jamais visto, tal era a intensidade e o tom dos elogios feitos ao time. Expressões como "resgate do futebol arte", "o jeito brasileiro de jogar", "uma nova Seleção Brasileira" etc., foram repetidas à exaustão.
Acabado o jogo, quando pensei que as análises viriam com um pouco mais de frieza e objetividade e com menos apaixonite, notei que o objetivo dos comentaristas e do narrador Luiz Carlos Junior, do SporTV, era convencer de que essa seleição que iniciou seu trabalho nesse amistoso é a seleção que o povo brasileiro, de quem a imprensa costuma se julgar porta-voz, desejava ver em campo. Logo no início da transmissão, o comentarista Paulo César Vasconcelos disse que a seleção era muito promissora, em primeiro lugar, porque tinha três jogadores do Santos. Então, se tivesse 22, ou seja, todos os titulares e reservas da Vila Belmiro, o time seria imbatível? Impressionante também como tudo que o treinador Mano Meneses fazia ou dizia estava correto, cheio de razão. Nos comentários finais, até mesmo o fato de o Brasil ter desperdiçado inúmeras oportunidades de gol, no segundo tempo, foi encarado como positivo pelos comentaristas. Afinal, diziam, foi uma equipe que não perdeu o ritmo de jogo na etapa complementar, manteve a pegada. Só não foi feliz na finalização.
Fato é que uma coisa é perder gols contra a seleção dos Estados Unidos que, mesmo tendo melhorado muito nos últimos anos, apresenta várias fragilidades. Outra coisa é perder gols contra uma seleção que, se tiver oportunidade, não perdoa. Será que, se o Brasil perder tantos gols contra a Espanha, não correremos o sério risco de tomarmos gols? Mas, tirando as críticas pelos constantes erros de passe do lateral Daniel Alves, o Brasil, na visão dos comentaristas do SporTV, parecia não ter defeitos. E mais, mesmo com a estreia de vários jogadores com a camisa da seleção, Neymar e Ganso eram os destaques citados. Nem mesmo Alexandre Pato, que fez um golaço e jogou uma excelente partida, mesmo tendo vindo de contusão, só foi elogiado pelo comentarista quando o narrador perguntou sobre a atuação do jogador.
Não estou aqui para dizer que a seleção que atuou diante dos Estados Unidos não merece elogios. Ao contrário, merece, tanto pelo futebol ofensivo que apresentou, quanto por não deixar de marcar, tanto que as jogadas ofensivas dos norte-americanos foram poucas. Mas é preciso mais cuidado ao analisar esse jogo do que tiveram os meus colegas do SporTV. Em primeiro lugar, porque uma seleção que treinou apenas por dois dias não tem como definir um esquema tático. Nenhum treinador, por mais mágico que seja, implanta uma filosofia de trabalho em dois dias. Portanto, dizer que essa seleção tem a cara do Mano Meneses é, no mínimo, precipitação e falta de conhecimento sobre futebol. Ora, se não há um esquema tático, o que deve fazer um técnico de bom senso? Interferir o mínimo possível na capacidade dos talentos individuais do time, ou seja, deixar o time jogar. E aí, claro, os talentosos se destacam.
No decorrer e depois do jogo, fiquei acompanhando as manifestações no Twitter, praticamente todas muito empolgadas, afirmando, dentre outras coisas, que os 45 minutos do primeiro tempo do amistoso valeram mais do que toda a Copa da África. Nada contra a manifestação das pessoas. Aliás, acho até muito positivo que o torcedor se identifique com a sua seleção. O torcedor é um apaixonado por excelênvia e é assim que deve agir sempre. Mas a imprensa, esta tem por obrigação informar e opinar, mas com informações embasadas. É por isso que considero lamentável o festival de frases prontas e repetitivas protagonizado pela equipe do SporTV. Deixem a missão de se apaixonar para o povo. Quanto ao time de Mano Meneses, vamos ver, daqui para frente, como os "Meninos da Vila" se saem debaixo de um rigoroso esquema tático que, certamente, Mano Meneses vai implementar no Brasil a partir de agora. Aguardemos, mas sem empolgação exagerada.
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Oi Montanha.
ResponderExcluirEstou aqui para deixar mais um comentário.
A imprensa brasileira, quando se trata da análise de Futebol, leva como critério principal os resultados.
claro que acho que dunga cometeu sim alguns erros na copa. O crucial para mim foi no jogo contra o Chile.
Se o jogo já estava ganho e Ramires estava pendurado, deveria a meu ver ser substituído, uma vez que nas quartas de final os cartões estariam zerados e a seleção precisaria dele.
Não foi feito, ele recebeu cartão e ficamos desfalcados contra a Holanda.
Felipe melo foi crucificado pela derrota.
Mas te garanto que, mesmo sem ele, se o brasil tivesse virado o jogo, a imprensa sequer se lembraria de sua expulsão.
claro. O erro não deixaria de existir. A atitude continuaria sendo imatura... No entanto, nem seria lembrada.
Volto ao primeiro jogo da final da Copa do Brasil.
Claro! Estou falando da cavadinha do Neimar.
Perdeu o penalt.
Nossa, ele foi imaturo, irresponsável, quis fazer graça!
Agora se ele faz, é um grande craque, um gênio!
É óbvio que ele teria sido irresponsável, imaturo em tentar essa cavadinha àquela altura, mesmo tendo feito o gol, já que correu um risco desnecessário.
Mas a análise seria outra com certeza.
Tanto que agora que o Santos levou o título, ninguém mais fala na cavadinha.