Está marcado. Nesta terça-feira, dia 12 de março, tem início o Conclave, reunião dos cardeais com menos de 80 anos, que compõem a liderança da igreja católica em todo o mundo, para a escolha do novo papa: aquele que terá por missão governar a igreja católica pelos próximos anos. Uma vez trancados na Capela Cistina, nada do que acontecerá ali será divulgado para os fiéis ou para a imprensa: apenas será informado se a escolha do novo sumo pontífice já aconteceu ou não, através das fumaças que serão produzidas da chaminé instalada na capela.
Mas como já tem sido amplamente noticiado, a escolha do próximo papa traz um elemento raro na história da igreja: o antecessor do papa que será eleito ainda está vivo. Já são mais de 600 anos passados desde que isso aconteceu pela última vez. E num caso como esse, fica sempre a questão sobre a influência que não só a obra mas a própria pessoa do cardeal Joseph Ratzinger, o papa Bento XVI, terá na escolha do seu sucessor.
Especulações a parte, embora seja raro na história a renúncia de um papa, ela está presente na literatura. Bastante entendido nas questões eclesiásticas, o romancista australiano Morris West escreveu três obras importantes que narram histórias de papas, obviamente fictícios: “O Milagre de Lázaro”, “As Sandalhas do Pescador” e “Os Fantoches de Deus”, este último narrando a história de um papa que é compelido pelo Colégio dos Cardeais a renunciar.
O papa em questão é um cardeal francês de nome Jean Marry Barrette, que adota o nome de Gregório XVII. Um dia, enquanto meditava, o papa tem um momento de trancendência, no qual ele recebe o que acredita ser uma revelação da parte do próprio Deus. Ao narrar o episódio aos assessores mais próximos, eles tentam persuadi-lo a não falar da suposta visão aos fiéis. Diante da negativa em esconder o episódio, o fictício Gregório XVII é convocado pelo Colégio dos Cardeais e é colocado contra a parede. A imposição é: se quisesse continuar no pontificado, ele deveria esquecer a tal visão. Caso contrário, deveria renunciar ao papado. Se insistisse em permanecer e revelar a visão, seria dado como louco, o que seria uma tragédia para a igreja.
Diante da pressão e da ameaça de um episódio que manchasse a instituição do sumo pontificado, Jean Marry Barrette renuncia ao papado. No entanto, para não deixar a revelação que recebera oculta, ele escreve uma longa carta a um velho amigo seu, um professor de teologia alemão, a quem encarrega de criar um meio para que a visão fosse transmitida ‘a igreja.
A partir daí, desenvolve-se uma trama que envolve política da Santa Sé, política internacional e todos os elementos de uma boa narrativa com estilo cinematográfico. Um dos momentos mais marcantes da obra é o encontro, nada amistoso, do ex-papa com o seu sucessor, que adotara o nome de Leão XIV. Ao sair da audiência, o cardeal Barrette fala a um dos assessores do novo papa que seria muito bom que cuidassem dele, porque, apesar do nome Leão, ele estava com jeito de um gatinho assustado.
Apesar de um final pra lá de fantasioso, escrito mais pela ótica da fé do que pela razão, “Os Fantoches de Deus” é uma boa dica literária para quem quer conhecer a história de um ex-papa, mesmo que fictício. Minha pergunta é: sendo conhecedores de literatura como são os cardeais e conhecendo a história narrada por Morris West, será que o futuro sumo pontífice evitaria os nomes de Gregório XVII e Leão XIV por causa dos personagens do romance? Um teólogo, que apostou e acertou que o sucessor de João Paulo II adotaria o nome de Bento XVI, acredita que o próximo papa pode sim adotar o nome de Leão XIV, porque o papado de Leão XIII, no fim do século XIX, não teria completado um ciclo na história da igreja, e portanto estaria, por assim dizer, inacabado. Mas tudo isso é mera especulação. O que vai valer mesmo é a fumaça branca. Aí sim, saberemos quem será o próximo líder católico e como será chamado.
segunda-feira, 11 de março de 2013
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
Eles têm medo do quê?
Estava decidido a não escrever sobre a vinda da blogueira cubana Yoani Sánchez ao Brasil. Não por achar que ela não mereça. Ao contrário, penso que toda pessoa que usa a sua capacidade intelectual para se insurgir contra um regime ditatorial (e para mim não interessa se uma ditadura é de direita ou de esquerda, porque todas são ditaduras), merece ser elogiada e portanto merece um artigo em um blog, mesmo simples e desconhecido como é o Mexidão.
O que me tinha inclinado a não escrever, no entanto, era o fato de que a notícia da passagem de Yoani Sánchez pelo Brasil seria tão divulgada e comentada, que ficaria difícil acrescentar algo novo ao que já estava sendo dito.
Contudo, quando eu estava decidido a não escrever, pensava que a vinda de Yoani ao Brasil traria polêmica, levantaria acaloradas discussões sobre o regime cubano, provocaria embates memoráveis entre políticos ligados aos partidos de esquerda, ou que assim se definem, e os centristas ou direitistas. Pensei que os ânimos se exaltariam, que palavras de ordem fossem ditas, que até alguns insultos típicos da política seriam ditos no plenário da Câmara dos Deputados ou na imprensa. Tudo isso seria tolerável dentro do processo democrático e, mesmo que tudo isso ocorresse, eu não viria a este blog comentar a visita de Yoani ao Brasil.
Mas o que me fez mudar de ideia e comentar o caso foi a transformação da liberdade de manifestação em tentativa de intimidação, da democracia em baixaria e desrespeito. Por mais absurdo e paradoxal que possa parecer alguém se manifestar democraticamente em favor de uma ditadura, vale lembrar que esse é um direito constitucional. Defender governos, sejam eles democráticos, ditatoriais, monárquicos, teocráticos, é legítimo e também legal. Portanto as manifestações contra Yoani e a favor dos irmãos Castro, as palavras de ordem taxando-a como traidora, embora ela nunca tivesse mudado de lado e sempre tenha sido abertamente contrária ao regime, nada mais são do que o exercício de uma garantia dada pela nossa ordem jurídica e pela nossa democracia.
No entanto, essas manifestações só são legítimas quando existe a possibilidade do contraditório. Quando impediram a realização de eventos como palestras e noites de autógrafos com Yoani Sánchez, os tais militantes pró Fidel mostraram exatamente porque tanto apreciam o regime político instalado em Cuba desde 1959, aliás, uma espécie de dinastia Castro. Eles rezam pela mesma cartilha dos irmãos Fidel e Raul: impor suas ideias através da intimidação dos que pensam de modo diverso. Na ótica dessas pessoas, se eu não confio nas minhas ideias o bastante para convencer os demais de que estou certo, o melhor é silenciar as ideias contrárias às minhas. Em Cuba, isso muitas vezes significou eliminar os próprios autores dessas ideias que se opunham ao regime. No Brasil, as manifestações, que a princípio seriam apenas fruto da nossa jovem democracia, foram levadas ao extremo de impedir Yoani Sánchez de falar em vários eventos para os quais foi convidada.
Pergunto então: do que essa militância tem medo? Não seria mais democrático ouvir o que Yoani tem a dizer e depois, com os melhores argumentos, derrubar uma a uma de suas “mentiras” sobre o “paraíso” que é a vida da população cubana? Seria mais democrático de fato, mas seria mais perigoso. Afinal, se os argumentos para contrapor as ideias da blogueira não fossem bons o suficiente, a população brasileira poderia ser convencida de que Yoani está dizendo a verdade e que suas convicções são oriundas de uma vida de restrições, especialmente na falta de liberdade para se expressar. A democracia é muito perigosa para os que não querem ou não sabem debater suas ideias, por isso é sempre mais efetivo silenciar os oponentes, seja por que estratégia for.
Volto a dizer: sou contra todas as ditaduras. Mas parece que não é essa a posição de muitos dos militantes ditos de esquerda no Brasil. Na verdade, muitos dos que lutaram contra a tirania dos militares no poder entre 1964 e 1985, não lutaram contra a instituição da ditadura. Eles lutaram contra aquela ditadura específica. No entanto, quando a ditadura é comandada pela sua corrente ideológica, eles não se colocam contra. O apego dessas pessoas à democracia é tão frágil quanto uma tira de pano tentando segurar um avião. Eles estão sempre em busca de quem lhes diga “amém”. E quando aparece alguém como Yoani Sánchez e se recusa a participar da brincadeira com essas regras, esses militantes fazem birra e param de brincar. E ainda chamam de traidora aquela que discorda deles. Felizmente para ela e para nós, Yoani não está sozinha. E aos militantes que tentaram impedi-la de falar, sugiro que mandem esculpir uma estátua em homenagem à democracia e se ajoelhem diante dela. Afinal, não fosse essa que eles tanto insistem em chamar de democracia burguesa, eles não poderiam ter sequer se manifestado e muito menos da forma desrespeitosa como o fizeram. A boa nova é que essas pessoas não representam o pensamento do povo brasileiro. Um brinde a isso!
O que me tinha inclinado a não escrever, no entanto, era o fato de que a notícia da passagem de Yoani Sánchez pelo Brasil seria tão divulgada e comentada, que ficaria difícil acrescentar algo novo ao que já estava sendo dito.
Contudo, quando eu estava decidido a não escrever, pensava que a vinda de Yoani ao Brasil traria polêmica, levantaria acaloradas discussões sobre o regime cubano, provocaria embates memoráveis entre políticos ligados aos partidos de esquerda, ou que assim se definem, e os centristas ou direitistas. Pensei que os ânimos se exaltariam, que palavras de ordem fossem ditas, que até alguns insultos típicos da política seriam ditos no plenário da Câmara dos Deputados ou na imprensa. Tudo isso seria tolerável dentro do processo democrático e, mesmo que tudo isso ocorresse, eu não viria a este blog comentar a visita de Yoani ao Brasil.
Mas o que me fez mudar de ideia e comentar o caso foi a transformação da liberdade de manifestação em tentativa de intimidação, da democracia em baixaria e desrespeito. Por mais absurdo e paradoxal que possa parecer alguém se manifestar democraticamente em favor de uma ditadura, vale lembrar que esse é um direito constitucional. Defender governos, sejam eles democráticos, ditatoriais, monárquicos, teocráticos, é legítimo e também legal. Portanto as manifestações contra Yoani e a favor dos irmãos Castro, as palavras de ordem taxando-a como traidora, embora ela nunca tivesse mudado de lado e sempre tenha sido abertamente contrária ao regime, nada mais são do que o exercício de uma garantia dada pela nossa ordem jurídica e pela nossa democracia.
No entanto, essas manifestações só são legítimas quando existe a possibilidade do contraditório. Quando impediram a realização de eventos como palestras e noites de autógrafos com Yoani Sánchez, os tais militantes pró Fidel mostraram exatamente porque tanto apreciam o regime político instalado em Cuba desde 1959, aliás, uma espécie de dinastia Castro. Eles rezam pela mesma cartilha dos irmãos Fidel e Raul: impor suas ideias através da intimidação dos que pensam de modo diverso. Na ótica dessas pessoas, se eu não confio nas minhas ideias o bastante para convencer os demais de que estou certo, o melhor é silenciar as ideias contrárias às minhas. Em Cuba, isso muitas vezes significou eliminar os próprios autores dessas ideias que se opunham ao regime. No Brasil, as manifestações, que a princípio seriam apenas fruto da nossa jovem democracia, foram levadas ao extremo de impedir Yoani Sánchez de falar em vários eventos para os quais foi convidada.
Pergunto então: do que essa militância tem medo? Não seria mais democrático ouvir o que Yoani tem a dizer e depois, com os melhores argumentos, derrubar uma a uma de suas “mentiras” sobre o “paraíso” que é a vida da população cubana? Seria mais democrático de fato, mas seria mais perigoso. Afinal, se os argumentos para contrapor as ideias da blogueira não fossem bons o suficiente, a população brasileira poderia ser convencida de que Yoani está dizendo a verdade e que suas convicções são oriundas de uma vida de restrições, especialmente na falta de liberdade para se expressar. A democracia é muito perigosa para os que não querem ou não sabem debater suas ideias, por isso é sempre mais efetivo silenciar os oponentes, seja por que estratégia for.
Volto a dizer: sou contra todas as ditaduras. Mas parece que não é essa a posição de muitos dos militantes ditos de esquerda no Brasil. Na verdade, muitos dos que lutaram contra a tirania dos militares no poder entre 1964 e 1985, não lutaram contra a instituição da ditadura. Eles lutaram contra aquela ditadura específica. No entanto, quando a ditadura é comandada pela sua corrente ideológica, eles não se colocam contra. O apego dessas pessoas à democracia é tão frágil quanto uma tira de pano tentando segurar um avião. Eles estão sempre em busca de quem lhes diga “amém”. E quando aparece alguém como Yoani Sánchez e se recusa a participar da brincadeira com essas regras, esses militantes fazem birra e param de brincar. E ainda chamam de traidora aquela que discorda deles. Felizmente para ela e para nós, Yoani não está sozinha. E aos militantes que tentaram impedi-la de falar, sugiro que mandem esculpir uma estátua em homenagem à democracia e se ajoelhem diante dela. Afinal, não fosse essa que eles tanto insistem em chamar de democracia burguesa, eles não poderiam ter sequer se manifestado e muito menos da forma desrespeitosa como o fizeram. A boa nova é que essas pessoas não representam o pensamento do povo brasileiro. Um brinde a isso!
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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
O Pedro e a Mully
Como amante dos animais que sou, nunca duvidei da capacidade deles em fazer bem ao ser humano. Sou alvo desse benefício todos os dias através do trabalho que Mully, minha cadela guia, faz por mim, garantindo a minha caminhada livre de obstáculos e ajudando a encontrar lugares que, por mim mesmo, eu não encontraria tão facilmente.
Mas hoje, o que assisti na redação da Rádio Câmara, onde trabalho, foi a mais fantástica demonstração de que a relação entre animais e crianças não tem como não trazer benefícios para os dois. Minha colega de trabalho havia faltado para levar o filho ao médico. O garoto estava com febre, muito provavelmente por causa de um daqueles problemas que afligem os pequenos nessa faixa dos dois anos, como complicações no nascimento da dentição etc. Depois da consulta, ela passou pela redação e o garoto, por causa da febre, estava tão calado que nem parecia haver criança no ambiente.
No entanto, quando minha colega veio mostrar que, no seu local de trabalho, há um cão que acompanha um dos seus colegas e que fica o tempo todo na sala com todos os outros profissionais, tudo, mas tudo mesmo, mudou. A primeira frase dita pelo garoto, depois de estar por cinco minutos na redação em completo silêncio, foi: "Olha, mãe, um cachorro!" E daí para diante, após o contato com a Mully, o garoto calado deu lugar a uma criança falante, que até ameaçou dar umas corridinhas pelo corredor da rádio, uma criança que até ali estava quieta e desinteressada de tudo, no colo da mãe.
A febre, claro, não havia passado de uma hora para outra. A dor, certamente não havia acabado. Mas a diferença foi que, no contato com um cão, na interação com um animal doce e vibrante como a Mully, o humor de uma criança doente foi transformado. Me digam então: é ou não é benéfica para criança e animal essa troca? É por isso que, sempre que um pai ou mãe proíbe seu filho de tocar na Mully em tom de ameaça, o que acontece muito quando estamos em local público, sou o primeiro a convidar os pequenos para ter esse momento com o cão e desautorizo os pais sem medo de ser feliz! Afinal, já é passado o tempo de criança com medo doentio de cães. Vamos estabelecer uma nova ordem, de convivência, interação e ajuda mútua, porque nós podemos oferecer muito aos animais, assim como eles a nós.
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