Está marcado. Nesta terça-feira, dia 12 de março, tem início o Conclave, reunião dos cardeais com menos de 80 anos, que compõem a liderança da igreja católica em todo o mundo, para a escolha do novo papa: aquele que terá por missão governar a igreja católica pelos próximos anos. Uma vez trancados na Capela Cistina, nada do que acontecerá ali será divulgado para os fiéis ou para a imprensa: apenas será informado se a escolha do novo sumo pontífice já aconteceu ou não, através das fumaças que serão produzidas da chaminé instalada na capela.
Mas como já tem sido amplamente noticiado, a escolha do próximo papa traz um elemento raro na história da igreja: o antecessor do papa que será eleito ainda está vivo. Já são mais de 600 anos passados desde que isso aconteceu pela última vez. E num caso como esse, fica sempre a questão sobre a influência que não só a obra mas a própria pessoa do cardeal Joseph Ratzinger, o papa Bento XVI, terá na escolha do seu sucessor.
Especulações a parte, embora seja raro na história a renúncia de um papa, ela está presente na literatura. Bastante entendido nas questões eclesiásticas, o romancista australiano Morris West escreveu três obras importantes que narram histórias de papas, obviamente fictícios: “O Milagre de Lázaro”, “As Sandalhas do Pescador” e “Os Fantoches de Deus”, este último narrando a história de um papa que é compelido pelo Colégio dos Cardeais a renunciar.
O papa em questão é um cardeal francês de nome Jean Marry Barrette, que adota o nome de Gregório XVII. Um dia, enquanto meditava, o papa tem um momento de trancendência, no qual ele recebe o que acredita ser uma revelação da parte do próprio Deus. Ao narrar o episódio aos assessores mais próximos, eles tentam persuadi-lo a não falar da suposta visão aos fiéis. Diante da negativa em esconder o episódio, o fictício Gregório XVII é convocado pelo Colégio dos Cardeais e é colocado contra a parede. A imposição é: se quisesse continuar no pontificado, ele deveria esquecer a tal visão. Caso contrário, deveria renunciar ao papado. Se insistisse em permanecer e revelar a visão, seria dado como louco, o que seria uma tragédia para a igreja.
Diante da pressão e da ameaça de um episódio que manchasse a instituição do sumo pontificado, Jean Marry Barrette renuncia ao papado. No entanto, para não deixar a revelação que recebera oculta, ele escreve uma longa carta a um velho amigo seu, um professor de teologia alemão, a quem encarrega de criar um meio para que a visão fosse transmitida ‘a igreja.
A partir daí, desenvolve-se uma trama que envolve política da Santa Sé, política internacional e todos os elementos de uma boa narrativa com estilo cinematográfico. Um dos momentos mais marcantes da obra é o encontro, nada amistoso, do ex-papa com o seu sucessor, que adotara o nome de Leão XIV. Ao sair da audiência, o cardeal Barrette fala a um dos assessores do novo papa que seria muito bom que cuidassem dele, porque, apesar do nome Leão, ele estava com jeito de um gatinho assustado.
Apesar de um final pra lá de fantasioso, escrito mais pela ótica da fé do que pela razão, “Os Fantoches de Deus” é uma boa dica literária para quem quer conhecer a história de um ex-papa, mesmo que fictício. Minha pergunta é: sendo conhecedores de literatura como são os cardeais e conhecendo a história narrada por Morris West, será que o futuro sumo pontífice evitaria os nomes de Gregório XVII e Leão XIV por causa dos personagens do romance? Um teólogo, que apostou e acertou que o sucessor de João Paulo II adotaria o nome de Bento XVI, acredita que o próximo papa pode sim adotar o nome de Leão XIV, porque o papado de Leão XIII, no fim do século XIX, não teria completado um ciclo na história da igreja, e portanto estaria, por assim dizer, inacabado. Mas tudo isso é mera especulação. O que vai valer mesmo é a fumaça branca. Aí sim, saberemos quem será o próximo líder católico e como será chamado.
segunda-feira, 11 de março de 2013
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
Eles têm medo do quê?
Estava decidido a não escrever sobre a vinda da blogueira cubana Yoani Sánchez ao Brasil. Não por achar que ela não mereça. Ao contrário, penso que toda pessoa que usa a sua capacidade intelectual para se insurgir contra um regime ditatorial (e para mim não interessa se uma ditadura é de direita ou de esquerda, porque todas são ditaduras), merece ser elogiada e portanto merece um artigo em um blog, mesmo simples e desconhecido como é o Mexidão.
O que me tinha inclinado a não escrever, no entanto, era o fato de que a notícia da passagem de Yoani Sánchez pelo Brasil seria tão divulgada e comentada, que ficaria difícil acrescentar algo novo ao que já estava sendo dito.
Contudo, quando eu estava decidido a não escrever, pensava que a vinda de Yoani ao Brasil traria polêmica, levantaria acaloradas discussões sobre o regime cubano, provocaria embates memoráveis entre políticos ligados aos partidos de esquerda, ou que assim se definem, e os centristas ou direitistas. Pensei que os ânimos se exaltariam, que palavras de ordem fossem ditas, que até alguns insultos típicos da política seriam ditos no plenário da Câmara dos Deputados ou na imprensa. Tudo isso seria tolerável dentro do processo democrático e, mesmo que tudo isso ocorresse, eu não viria a este blog comentar a visita de Yoani ao Brasil.
Mas o que me fez mudar de ideia e comentar o caso foi a transformação da liberdade de manifestação em tentativa de intimidação, da democracia em baixaria e desrespeito. Por mais absurdo e paradoxal que possa parecer alguém se manifestar democraticamente em favor de uma ditadura, vale lembrar que esse é um direito constitucional. Defender governos, sejam eles democráticos, ditatoriais, monárquicos, teocráticos, é legítimo e também legal. Portanto as manifestações contra Yoani e a favor dos irmãos Castro, as palavras de ordem taxando-a como traidora, embora ela nunca tivesse mudado de lado e sempre tenha sido abertamente contrária ao regime, nada mais são do que o exercício de uma garantia dada pela nossa ordem jurídica e pela nossa democracia.
No entanto, essas manifestações só são legítimas quando existe a possibilidade do contraditório. Quando impediram a realização de eventos como palestras e noites de autógrafos com Yoani Sánchez, os tais militantes pró Fidel mostraram exatamente porque tanto apreciam o regime político instalado em Cuba desde 1959, aliás, uma espécie de dinastia Castro. Eles rezam pela mesma cartilha dos irmãos Fidel e Raul: impor suas ideias através da intimidação dos que pensam de modo diverso. Na ótica dessas pessoas, se eu não confio nas minhas ideias o bastante para convencer os demais de que estou certo, o melhor é silenciar as ideias contrárias às minhas. Em Cuba, isso muitas vezes significou eliminar os próprios autores dessas ideias que se opunham ao regime. No Brasil, as manifestações, que a princípio seriam apenas fruto da nossa jovem democracia, foram levadas ao extremo de impedir Yoani Sánchez de falar em vários eventos para os quais foi convidada.
Pergunto então: do que essa militância tem medo? Não seria mais democrático ouvir o que Yoani tem a dizer e depois, com os melhores argumentos, derrubar uma a uma de suas “mentiras” sobre o “paraíso” que é a vida da população cubana? Seria mais democrático de fato, mas seria mais perigoso. Afinal, se os argumentos para contrapor as ideias da blogueira não fossem bons o suficiente, a população brasileira poderia ser convencida de que Yoani está dizendo a verdade e que suas convicções são oriundas de uma vida de restrições, especialmente na falta de liberdade para se expressar. A democracia é muito perigosa para os que não querem ou não sabem debater suas ideias, por isso é sempre mais efetivo silenciar os oponentes, seja por que estratégia for.
Volto a dizer: sou contra todas as ditaduras. Mas parece que não é essa a posição de muitos dos militantes ditos de esquerda no Brasil. Na verdade, muitos dos que lutaram contra a tirania dos militares no poder entre 1964 e 1985, não lutaram contra a instituição da ditadura. Eles lutaram contra aquela ditadura específica. No entanto, quando a ditadura é comandada pela sua corrente ideológica, eles não se colocam contra. O apego dessas pessoas à democracia é tão frágil quanto uma tira de pano tentando segurar um avião. Eles estão sempre em busca de quem lhes diga “amém”. E quando aparece alguém como Yoani Sánchez e se recusa a participar da brincadeira com essas regras, esses militantes fazem birra e param de brincar. E ainda chamam de traidora aquela que discorda deles. Felizmente para ela e para nós, Yoani não está sozinha. E aos militantes que tentaram impedi-la de falar, sugiro que mandem esculpir uma estátua em homenagem à democracia e se ajoelhem diante dela. Afinal, não fosse essa que eles tanto insistem em chamar de democracia burguesa, eles não poderiam ter sequer se manifestado e muito menos da forma desrespeitosa como o fizeram. A boa nova é que essas pessoas não representam o pensamento do povo brasileiro. Um brinde a isso!
O que me tinha inclinado a não escrever, no entanto, era o fato de que a notícia da passagem de Yoani Sánchez pelo Brasil seria tão divulgada e comentada, que ficaria difícil acrescentar algo novo ao que já estava sendo dito.
Contudo, quando eu estava decidido a não escrever, pensava que a vinda de Yoani ao Brasil traria polêmica, levantaria acaloradas discussões sobre o regime cubano, provocaria embates memoráveis entre políticos ligados aos partidos de esquerda, ou que assim se definem, e os centristas ou direitistas. Pensei que os ânimos se exaltariam, que palavras de ordem fossem ditas, que até alguns insultos típicos da política seriam ditos no plenário da Câmara dos Deputados ou na imprensa. Tudo isso seria tolerável dentro do processo democrático e, mesmo que tudo isso ocorresse, eu não viria a este blog comentar a visita de Yoani ao Brasil.
Mas o que me fez mudar de ideia e comentar o caso foi a transformação da liberdade de manifestação em tentativa de intimidação, da democracia em baixaria e desrespeito. Por mais absurdo e paradoxal que possa parecer alguém se manifestar democraticamente em favor de uma ditadura, vale lembrar que esse é um direito constitucional. Defender governos, sejam eles democráticos, ditatoriais, monárquicos, teocráticos, é legítimo e também legal. Portanto as manifestações contra Yoani e a favor dos irmãos Castro, as palavras de ordem taxando-a como traidora, embora ela nunca tivesse mudado de lado e sempre tenha sido abertamente contrária ao regime, nada mais são do que o exercício de uma garantia dada pela nossa ordem jurídica e pela nossa democracia.
No entanto, essas manifestações só são legítimas quando existe a possibilidade do contraditório. Quando impediram a realização de eventos como palestras e noites de autógrafos com Yoani Sánchez, os tais militantes pró Fidel mostraram exatamente porque tanto apreciam o regime político instalado em Cuba desde 1959, aliás, uma espécie de dinastia Castro. Eles rezam pela mesma cartilha dos irmãos Fidel e Raul: impor suas ideias através da intimidação dos que pensam de modo diverso. Na ótica dessas pessoas, se eu não confio nas minhas ideias o bastante para convencer os demais de que estou certo, o melhor é silenciar as ideias contrárias às minhas. Em Cuba, isso muitas vezes significou eliminar os próprios autores dessas ideias que se opunham ao regime. No Brasil, as manifestações, que a princípio seriam apenas fruto da nossa jovem democracia, foram levadas ao extremo de impedir Yoani Sánchez de falar em vários eventos para os quais foi convidada.
Pergunto então: do que essa militância tem medo? Não seria mais democrático ouvir o que Yoani tem a dizer e depois, com os melhores argumentos, derrubar uma a uma de suas “mentiras” sobre o “paraíso” que é a vida da população cubana? Seria mais democrático de fato, mas seria mais perigoso. Afinal, se os argumentos para contrapor as ideias da blogueira não fossem bons o suficiente, a população brasileira poderia ser convencida de que Yoani está dizendo a verdade e que suas convicções são oriundas de uma vida de restrições, especialmente na falta de liberdade para se expressar. A democracia é muito perigosa para os que não querem ou não sabem debater suas ideias, por isso é sempre mais efetivo silenciar os oponentes, seja por que estratégia for.
Volto a dizer: sou contra todas as ditaduras. Mas parece que não é essa a posição de muitos dos militantes ditos de esquerda no Brasil. Na verdade, muitos dos que lutaram contra a tirania dos militares no poder entre 1964 e 1985, não lutaram contra a instituição da ditadura. Eles lutaram contra aquela ditadura específica. No entanto, quando a ditadura é comandada pela sua corrente ideológica, eles não se colocam contra. O apego dessas pessoas à democracia é tão frágil quanto uma tira de pano tentando segurar um avião. Eles estão sempre em busca de quem lhes diga “amém”. E quando aparece alguém como Yoani Sánchez e se recusa a participar da brincadeira com essas regras, esses militantes fazem birra e param de brincar. E ainda chamam de traidora aquela que discorda deles. Felizmente para ela e para nós, Yoani não está sozinha. E aos militantes que tentaram impedi-la de falar, sugiro que mandem esculpir uma estátua em homenagem à democracia e se ajoelhem diante dela. Afinal, não fosse essa que eles tanto insistem em chamar de democracia burguesa, eles não poderiam ter sequer se manifestado e muito menos da forma desrespeitosa como o fizeram. A boa nova é que essas pessoas não representam o pensamento do povo brasileiro. Um brinde a isso!
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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
O Pedro e a Mully
Como amante dos animais que sou, nunca duvidei da capacidade deles em fazer bem ao ser humano. Sou alvo desse benefício todos os dias através do trabalho que Mully, minha cadela guia, faz por mim, garantindo a minha caminhada livre de obstáculos e ajudando a encontrar lugares que, por mim mesmo, eu não encontraria tão facilmente.
Mas hoje, o que assisti na redação da Rádio Câmara, onde trabalho, foi a mais fantástica demonstração de que a relação entre animais e crianças não tem como não trazer benefícios para os dois. Minha colega de trabalho havia faltado para levar o filho ao médico. O garoto estava com febre, muito provavelmente por causa de um daqueles problemas que afligem os pequenos nessa faixa dos dois anos, como complicações no nascimento da dentição etc. Depois da consulta, ela passou pela redação e o garoto, por causa da febre, estava tão calado que nem parecia haver criança no ambiente.
No entanto, quando minha colega veio mostrar que, no seu local de trabalho, há um cão que acompanha um dos seus colegas e que fica o tempo todo na sala com todos os outros profissionais, tudo, mas tudo mesmo, mudou. A primeira frase dita pelo garoto, depois de estar por cinco minutos na redação em completo silêncio, foi: "Olha, mãe, um cachorro!" E daí para diante, após o contato com a Mully, o garoto calado deu lugar a uma criança falante, que até ameaçou dar umas corridinhas pelo corredor da rádio, uma criança que até ali estava quieta e desinteressada de tudo, no colo da mãe.
A febre, claro, não havia passado de uma hora para outra. A dor, certamente não havia acabado. Mas a diferença foi que, no contato com um cão, na interação com um animal doce e vibrante como a Mully, o humor de uma criança doente foi transformado. Me digam então: é ou não é benéfica para criança e animal essa troca? É por isso que, sempre que um pai ou mãe proíbe seu filho de tocar na Mully em tom de ameaça, o que acontece muito quando estamos em local público, sou o primeiro a convidar os pequenos para ter esse momento com o cão e desautorizo os pais sem medo de ser feliz! Afinal, já é passado o tempo de criança com medo doentio de cães. Vamos estabelecer uma nova ordem, de convivência, interação e ajuda mútua, porque nós podemos oferecer muito aos animais, assim como eles a nós.
terça-feira, 11 de setembro de 2012
"If you see something, say something"
Os ataques de 11 de setembro de 2001 deixaram como legado mais do que as quase três mil vidas perdidas, as mudanças nos procedimentos de segurança nos aeroportos ou em locais de grande aglomeração de pessoas. Deixaram uma certa cultura do medo. E talvez fosse esse mesmo o lobjetivo principal da Operação Aviões, arquitetada pela Al Qaeda: fazer com que o povo americano não mais tivesse pleno sossego para levar a sua vida cotidiana.
É evidente que, 11 anos depois dos atentados, as pessoas aprenderam a conciliar essa vida de quem precisa olhar sempre para os lados para saber se nenhuma mochila suspeita foi abandonada na estação do metrô ou dentro dos trens, com as suas necessidades de ir e vir, comprar, se divertir etc. Afinal, a vida precisa prosseguir e as pessoas tentam fazer disso a coisa mais natural do mundo. Mas é qualquer boato sobre a possibilidade de novos atentados aparecer e a tensão volta a reinar nos ares de Nova York.
No ano passado, passei férias na Grande Maçã exatamente nas vésperas dos 10 anos dos atentados contra o World Trade Center. Foram as melhores férias da minha vida. Fiz compras, fui a dois espetáculos na Broadway, visitei museus, e como era fim de verão, fiz tudo isso em roupas bem confortáveis, passeando de bermuda, camiseta e sandálias em plena Quinta Avenida. Mas é inevitável viver também esse clima de ameaça que sempre paira quando algo diferente acontece; algo que, para nós, parece corriqueiro, mas que para quem vive cercado por lembranças tão marcantes, se torna um pesadelo.
A percepção de que a vida não é tão normal assim começa ao assistirmos Tv. A prefeitura de Nova York colocou no ar uma série de campanhas alertando a população para que denuncie objetos e atitudes suspeitas nos locais de maior circulação de pessoas. Em um dos filmes, uma mochila é “casualmente” esquecida no metrô. Em seguida, a voz do locutor, em tom bastante sério, diz: “Não pense que isso foi esquecido ali por acaso: se você vir alguma coisa, diga alguma coisa”. Passeando pelas ruas, tudo parece normal, até que um policial te interrompa o caminho e peça para você desviar para a rua paralela, porque aquele quarteirão está fechado. O motivo: uma mochila abandonada na porta de um prédio. Esse fato aconteceu comigo quando voltava do restaurante onde costumava tomar café da manhã. Tive que dar uma volta para sair na portaria do hotel. Vale ressaltar que, apesar da dureza imposta pela gravidade aparente do fato, os policiais são bastante solícitos, barrando o caminho, mas sempre indicando uma direção alternativa para que o turista não se perca.
Os objetos abandonados “por acaso” são de fato a maior preocupação dos novaiorquinos. Embora a possibilidade de ataques suicidas sempre exista, é muito mais difícil preparar agentes para esse tipo de missão. Por isso, os ataques suicidas são reservados a missões maiores e os pequenos atentados com objetos corriqueiros são sempre utilizados pelos terroristas, embora, por outro lado, seja mais fácil detectar e impedir esse tipo de ação. Fato é que todo objeto sem dono, esteja onde estiver, é imediatamente removido. Numa ocasião, eu e minha esposa estávamos sentados no saguão do hotel usando o serviço de internet wi-fi. Havia uma mala ao lado do sofá em que estávamos e um funcionário do hotel logo perguntou se era nossa. Como não era, assim como não era de nenhum dos outros hóspedes que estavam nos sofás do saguão, a mala foi imediatamente recolhida.
Voltei para o Brasil dois dias antes do aniversário de 10 anos dos atentados de 2001. E os noticiários sobre um possível ataque por causa dessa data eram cada dia mais frequentes. O temor era de que houvesse um ataque com carro bomba, o que em Manhattan, infelizmente, é muito fácil de se fazer, sobretudo se for um ataque suicida. Mas o 11 de setembro de 2011 passou sem que nada de extraordinário ocorresse. No entanto, ataques terroristas não costumam acontecer com aviso prévio, de modo que essa ameaça está sempre no cotidiano. Nesse sentido, a Al Qaeda parece ter alcançado a maior vitória de sua existência: Nova York nunca mais será a mesma. E os Estados Unidos também não.
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terça-feira, 21 de agosto de 2012
Meus encontros com Tiririca
Tiririca, o deputado federal mais presente nas sessões da Câmara no primeiro ano de mandato, mostra, no dia a dia e no trato com as pessoas que circulam pela casa, a razão de ter conquistado a simpatia de tantos paulistas. Por trás do parlamentar que veste terno e gravata, está o palhaço, na melhor acepção da palavra, capaz de fazer rir os funcionários e clientes do salão de beleza da Câmara, que também oferece o serviço de barbearia.Não dá para negar que uma grande parte do eleitorado deu a Tiririca o chamado voto de protesto, julgando que, do jeito que a política brasileira anda, só mesmo um palhaço autêntico poderia simbolizá-la. Por outro lado, muitos certamente viram nele o retrato da simplicidade ao dizer, em sua campanha, que não sabia o que fazia um deputado federal. Se a frase soava a provocação ou era uma piada de mau gosto, fato é que mais de um milhão de pessoas o elegeram por causa dela.Meu primeiro encontro com Tiririca foi na Rádio Câmara, onde trabalho como repórter. Foi menos de um mês depois da posse dos parlamentares eleitos em 2010 e eu era redator da Voz do Brasil, parte destinada à Câmara. Estava terminando um trabalho na sala e meus colegas já tinham saído quando o deputado e sua assessora de imprensa chegaram, com o então diretor da Rádio Câmara, Humberto Martins. Naquele encontro, Tiririca me pareceu o peixe fora d’água por excelência. Quando eu me levantei e o cumprimentei, Mully, minha cadela guia, levantou-se também, o que causou certo receio ao deputado. Depois de ser informado que o cão não o poderia morder, ele relaxou e ouviu meus elogios à cidade de Fortaleza, capital do seu estado. A conversa não durou dois minutos e Tiririca era o retrato da timidez.Hoje, quando fui ao salão que fica no Anexo IV da Câmara para dar um trato no visual, fazendo o famoso trio cabelo, barba e bigode, me deparo novamente com o deputado Tiririca, bem mais Tiririca do que deputado. Ele estava duas cadeiras depois da que eu estava usando e dava para ouvir cada palavra que ele dizia. Falante e animadíssimo, Tiririca transformou a barbearia num palco para fazer seu stand up! “Da próxima vez que vier aqui, vou pintar meu cabelo de vermelho. Sabe, a gente não pode ficar sempre igual não. Tem que mudar... Eu gosto de mudar sempre”, dizia ele, entre as risadas do pessoal de serviço no salão. “Hoje eu acordei muito apaixonado, com vontade de beijar!”, brincava.Depois de pagar pelo serviço do seu Manuel, barbeiro mais antigo da Câmara, saí do salão, ainda ouvindo as graças do deputado Tiririca e as risadas dos demais. Além de saber que o deputado é o mais presente nas sessões do parlamento, descobri agora que ele trata com carinho as pessoas que trabalham na casa legislativa, fazendo-as rir. Alguém pode dizer que comparecer às sessões não significa trabalhar. Bem, se todos os parlamentares fossem presentes como Tiririca, muitas votações não deixariam de acontecer por falta de quórum, como muitas vezes ocorre, não só na Câmara como em todas as instâncias do poder legislativo. Além de uma lição de humor, Tiririca tem a ensinar aos outros parlamentares que, em dia de sessão e votação, lugar de deputado é no plenário.
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Feliz Aniversário!
Se eu tivesse feito isso de caso pensado, jamais daria certo. Acabo de escrever um novo post para publicar neste blog, que eu carinhosamente e descaradamente chamo de um "devezenquandário", quando descubro que minha última postagem aqui tem exatamente um ano. Foi no dia 21 de agosto de 2011.
Mais uma vez, atribuo essa ausência, que desta vez fez aniversário, à maldição da minha amiga Rafaela Freitas, que, no dia em que inaugurei este blog, me disse: "Cuidado, porque eu virei uma grande criadora de blogs que não foram para frente. Blog a gente tem que alimentar..." Pois bem, como sempre faço, vou prometer de novo, dando uma de político, que vou me esforçar para voltar a escrever neste tão rico e democrático espaço. Ora, será que eu tenho tão pouco a dizer a ponto de ficar um ano sem postar no meu próprio blog? Cria vergonha na cara, Montanha! Próximo passo: postar o que estava planejando. Então vamos lá!
domingo, 21 de agosto de 2011
Minas é Minas e ponto final
Na minha última ida a BH, no final de julho/início de agosto deste ano, dei uma passada no Vila Gourmet para um almoço. Para mim, ele é de longe o melhor restaurante da cidade quando o assunto é almoço executivo, ou seja, aquela parada no meio do expediente para comer e, na medida do possível, tentar resolver alguns assuntos fora do trabalho. Como todo restaurante no centro de uma cidade convencional, ele sofre da superlotação, mas nada que o desqualifique mais do que os outros. De resto, a comida é variada e atende aos mais diversos gostos, dos veganos aos pecadores carnívoros, como eu.
Mas, quando vou ao Vila Gourmet, há algo que tenho muito prazer em fazer além de me deliciar com as iguarias da casa: levar uma boa prosa com a gerente do estabelecimento, a Simone, uma funcionária exemplar que está na casa desde a sua inauguração. Além de ter um ótimo papo, ela carinhosamente faz o meu prato, já que, por ser cego, é um tanto complicado para mim desempenhar essa tarefa. E enquanto ela gentilmente corta as carnes para facilitar a minha vida, o papo vai rolando. (A foto mostra o prato arrumado pela Simone, já com as carnes devidamente cortadas.)
Em nossa última conversa, Simone e eu concordamos em um ponto: determinados pratos regionais só mantêm sua originalidade se forem feitos por pessoas nativas do lugar ou por alguém que tenha sido formado dentro da culinária daquele lugar. Assim é a a tradicional cozinha mineira. Por melhor chef que alguém seja, se não teve uma convivência estreita dentro de uma cozinha mineira, não fará a coisa do jeito certo. Note que o Vila Gourmet não é um restaurante especializado em comida mineira, mas os pratos dessa culinária que saem de lá são excelentes, porque a equipe de cozinha da casa é de Minas.
Aqui em Brasília, por exemplo, a forte influência nordestina, muito positiva, vale lembrar, acabou incorporando elementos seus em pratos de outras regiões. Por exemplo, não é raro você encontrar em Brasília o feijão tropeiro feito a partir do feijão fradinho, ou feijão de corda. Claro que, bem feita, a iguaria pode ser saborosa, mas não é como o original que você come nos melhores restaurantes do interior de Minas, especialmente em Ouro Preto, lugar abençoado para se deliciar com o que há de melhor nas Gerais. Aliás, Brasília é uma cidade curiosa: como há gente aqui de todo lugar do Brasil, há comida de todo lugar, dos peixes da região amazônica ao tradicional Xis, o famoso sanduíche prensado dos gaúchos. Mas há um detalhe: procurando, você encontra tanto a comida bem original, feita por nativos que vieram para cá, como a, digamos, regional mista, que acabou sofrendo a influência da mistura cultural da cidade.
No caso da comida mineira, muita gente se arrisca a fazer e quase ninguém acerta a mão. Se você for a um restaurante desses que eu chamei acima de almoço executivo, que normalmente servem a quilo, vai sempre encontrar alguma dita comida mineira, seja um tropeiro, um tutu ou uma couve refogada. Mas, embora não sejam pratos mal feitos, estão longe de ser originais. Tutu com a consistência dura demais, tropeiro com feijão de corda, falta de ingredientes em outros pratos. Enfim, esse tipo de restaurante não é o mais aconselhável quando se busca uma comida autêntica.
É é aí que aparece a outra face de Brasília, essa bem mais apetitosa. Muita gente de várias regiões veio para cá e abriu casas especializadas em comida regional. E aí, meu amigo, é a hora da perdição! Exemplos não faltam: o Xique-Xique, que serve a sua famosa Completa, refeição com arroz branco, feijão de corda, macaxeira (que nós mineiros conhecemos como mandioca), a paçoca (uma espécie de farofa de carne de sol) e a própria carne de sol assada na brasa, é um belo exemplo da tradição nordestina aqui na capital da república. E numa esquina sem nome, como todas as esquinas de Brasília, fica a Esquina Mineira, um verdadeiro deleite para quem aprecia a melhor comida do mundo, com o perdão de todos os outros que me lêem. É lá que eu realmente mato a saudade da terrinha, sem contar, claro, as delícias que a minha esposa sabe fazer, criada que foi na tradição da boa culinária.
Do ovo frito (e não pense que fritar um ovo é uma coisa tão banal como dizem por aí) ao delicioso leitão à pururuca, tudo no Esquina Mineira é feito com a maior autenticidade, coisa que só um mineiro ou alguém que tenha adquirido seus conhecimentos de cozinha com gente de Minas sabe fazer. As sobremesas são um capítulo a parte: lembram a casa da minha mãe nos fins de semana. Goiabada cremosa com queijo bem verdinho, doce de abóbora com coco, ambrosia e o que mais você imaginar daqueles doces típicos da roça. E para quem aprecia, a pinga com mel é cortesia da casa. Tudo isso embalado por uma boa música caipira, que o pessoal da casa seleciona com muito critério.
E no fim das contas, minha conversa com a Simone foi mais uma vez materializada no Esquina Mineira. Só pela receita, é impossível preparar com autenticidade as deliciosas iguarias da Terrinha. Até porque, Minas é Minas, e ponto final. Bão dimais da conta sô!
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