Já que estamos falando de futebol, vou usar essa metáfora para dizer que o leitor André Carioca, que postou um comentário sobre a primeira parte desse artigo, pegou na veia, mandou no ângulo, enfim, acertou em cheio a respeito do que eu havia deixado para essa segunda parte. Ele foi exatamente na direção que eu vou tomar a partir daqui. Valeu André!
Como eu havia dito no post anterior, a razão principal do treinador para não ceder às pressões é o fato de que, venha bônus ou venha ônus, tudo vai cair sobre ele próprio, não sobre a imprensa ou sobre os supostos 190 milhões de técnicos de futebol que temos no país.
Mas não é só isso: a convocação de Dunga se sustenta ainda no princípio da coerência. Ao longo de quatro anos, o treinador foi experimentando daqui e dali na tentativa de construir uma equipe coesa e que jogasse segundo a sua filosofia de trabalho. Com raríssimas exceções, a seleção convocada para a Copa 2010 não difere das últimas equipes convocadas por Dunga. E os testes foram feitos. Ou ninguém se lembra que Wagner Love e Afonso já foram a dupla de ataque da seleção? Mas não se sustentaram e, na convocação para a Copa das Confederações, na África do Sul, o técnico fez talvez suas últimas experiências, para chegar a um time que tivesse, digamos, a sua cara.
Especificamente sobre Ganso e Neymar, há um outro ponto importantíssimo: eles estão acostumados a jogar no esquema tático do Santos de Dorival Junior que, convenhamos, é o mesmo que não ter esquema tático. O melhor que o treinador da Vila Belmiro faz pelos seus atletas é não atrapalhar, e isso ele tem feito muito bem, diga-se. No entanto, jogar pela seleção brasileira é uma realidade completamente diferente. Como inserir, de uma hora para outra, dois atletas que nunca atuaram pela seleção brasileira, que nunca jogaram sob o comando de Dunga, que não conhecem outra maneira de jogar que não seja a do time que os consagrou? Seria possível convocar, diretamente para o torneio mais importante do futebol mundial, atletas com tão pouca experiência? Eu não me arriscaria tanto. Mas a imprensa parece tratar copa do mundo como se fosse torneio de menor importância ou, piior, como se fosse uma sequência de amistosos. Não nos esqueçamos que a seleção não deve ter mais de 20 dias de preparação para a estréia no mundial, portanto a hora de fazer testes, experimentos, ensaios, já passou. Agora o que se precisa é de certeza, de uma equipe que entenda o que o técnico deseja sem que ele precise ficar desenhando 24 horas por dia.
Outro ponto levantado por alguns colegas da imprensa foi a comparação, a meu ver descabida, entre a convocação de Ronaldo em 1994 e essa reclamação em torno da não ida de Ganso e Neymar. Descabida por uma razão muito simples: a convocação para o mundial dos Estados Unidos não foi a primeira de Ronaldo para a seleção. Parreira já o havia testado em campo. Ainda assim, o Fenômeno ficou apenas no banco e nem mesmo na fatídica final contra a Itália, em que o jogo estava 0 a 0 na prorrogação, ele teve oportunidade de jogar. De mais a mais, o Ronaldo que jogava pelo Cruzeiro em 1994 era muito mais jogador do que Neymar na atualidade, até porque ele não tinha altos e baixos. Não nos esqueçamos que, no Brasileirão do ano passado, Neymar foi um jogador absolutamente apagado.
Outro aspecto que se coloca é a dicotomia entre o futebol arte e o futebol de resultados. Para mim, há que se buscar sempre associar as duas coisas, mas, se em algum momento uma delas tiver que sobressair, eu não tenho dúvidas sobre o que vou escolher. Afinal, a seleção de 1982 é considerada uma das melhores, senão a melhor, da história do futebol brasileiro. No entanto, voltou de mãos vazias. Por outro lado, o São Paulo venceu três vezes seguidas o campeonato brasileiro jogando feio, retrancado, lutando para não levar gols e vencendo por placares magros. Mas eu sou capaz de apostar que a torcida do São Paulo não ficou triste quando o título veio para as suas mãos. Convém lembrar que o enfoque na defesa não é exclusividade do futebol contemporâneo, mas do esporte coletivo contemporâneo. Não é por acaso que o voleibol valoriza cada vez mais o líbero, que o basquete dá uma importância capital aos bons reboteiros de defesa e que o beisebol valoriza mais os bons arremessadores, considerados jogadores de defesa, do que os bons rebatedores, que fazem parte do ataque.
Não estou com isso dizendo que concordo com a lista apresentada por Dunga. Eu teria outra lista e certamente cada brasileiro teria uma diferente da minha, que seria também diferente da do treinador. Mas eu acredito que a copa do mundo é um torneio de tal importância que não permite tiros no escuro. Se um sujeito, por mais cara fechada que seja, é escolhido para ser o técnico da seleção brasileira de futebol, cabe a ele a última palavra. Se seremos campeões, não posso afirmar, mas não há dúvida de que o retrospecto do Brasil sob o comando de Dunga é extremamente positivo. São 37 vitórias, dois títulos conquistados e uma seleção cada vez mais estável na sua maneira de jogar. Acho que temos grande chance de trazer o título. Mas, venha o que vier, Dunga será o responsável, e o melhor é que ele tem plena consciência disso.
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