quarta-feira, 12 de maio de 2010

A voz da mídia é a voz do povo?

Depois de assistir ao "Programa do Jô" desta noite, acho que posso tampar o balde que separei para recolher as lágrimas da choradeira aprontada pela imprensa, não pela seleção que o técnico Dunga convocou, mas pela que ele deixou de convocar. Se bem que o primeiro jornal em TV aberta do dia começa às 4h, no SBT, e certamente a choradeira vai voltar com força total. A conversa de camaradas entre Jô Soares e o ator Dan Stulbach, que, segundo o apresentador, foi chamado para a entrevista por ser um apaixonado e entendido de futebol, foi uma das melhores mostras do que aconteceu durante todo o dia, de telejornal em telejornal, de comentário em comentário. Afinal, por que o treinador da seleção decidiu não levar Paulo Henrique Ganso e Neymar? E quanto a Adriano e Ronaldinho Gaúcho? Será que é teimosia pura, apenas para não fazer a suposta vontade de todo o povo brasileiro? Será que Dunga deseja criar uma família no bom estilo Felipão e fazer a coisa do jeito dele, sem ouvir ninguém?

Se existe uma coisa difícil é entrar na mente de um técnico de futebol, mais ainda no caso de um treinador de seleção, que tem ao seu dispor uma quantidade muito maior de grandes talentos, o que, infelizmente, nem sempre acontece nos clubes. Entender portanto as razões que levaram Dunga a convocar o jogador X e não o jogador Y, é um desafio que nem mesmo os grandes especialistas devem enfrentar. Se tentarem, será puro exercício de psicologia de botequim. Eu, que não sou entendedor de futebol como Dan Stulbach e Jô Soares, mas sou apaixonado por esse esporte, posso dizer com certeza uma coisa, ou antes, dar uma opinião muito convicta: Dunga já deu o primeiro passo para quem quer ser campeão do mundo ao ignorar as pressões da imprensa e convocar a seleção pelo seu único e exclusivo julgamento.

Quem assistiu aos programas esportivos do fim de semana deve ter reparado que a pergunta reinante era se os chamados "meninos da vila" seriam convocados para a seleção. No encerramento da transmissão do GP da Espanha de F-1, o narrador Galvão Bueno chegou a pedir que Deus iluminasse a mente de Dunga. E emendou a seguir: "Será que Ganso e Neymar serão convocados?", deixando a entender que Deus iluminar a mente de Dunga seria o mesmo que inspirá-lo a convocar os dois jogadores. Ou seja, Galvão Bueno estava tentando ensinar Deus a ser Deus e Dunga a ser técnico da seleção brasileira.

Toda essa ladainha (e me perdoem os católicos pelo uso da expressão) em torno da seleção convocada e da que deveria ter sido convocada me remete à choradeira que se criou em 2002, na tentativa de pressionar o técnico Luiz Felipe Scolari a levar o atacante Romário para o mundial do Japão e Coréia. O jogador chegou a derramar lágrimas diante das câmeras para sensibilizar o treinador. Teve apoio da TV Globo e da imprensa, especialmente do Rio de Janeiro e o que se comenta é que até mesmo a direção da CBF tentou pressionar Felipão. Para mim, os motivos que levaram Scolari a não ceder foram os mesmos que hoje levam Dunga a deixar de fora jogadores que, na verdade, são muito mais os queridinhos da mídia, sobretudo paulista, do que do povo brasileiro, como a própria mídia tenta fazer crer. Se o Brasil perdesse a copa de 2002, certamente Felipão seria crucificado, não porque o time teria jogado mal, não porque teria faltado entrosamento, mas pelo puro e simples fato de Romário não estar na equipe. Oito anos depois, a história se repete: se o Brasil não for bem na África do Sul, será única e exclusivamente pela não convocação de Ganso e Neymar. No entanto, como o Brasil venceu em 2002, o assunto Romário ficou em segundo plano, tanto quanto ficarão os nomes de Ganso e Neymar se o Brasil for campeão em 2010.

No fim das contas, seja o resultado o título ou a eliminação, o sucesso ou o fracasso, tudo recairá sobre o treinador da seleção brasileira, não sobre a imprensa. Seja bônus, seja ônus, o que vier pertencerá a Dunga. Ora, se a mídia não está (e certamente não está) disposta a dividir com o treinador o seu eventual fracasso, ele tem, até por reciprocidade, o direito de não desejar dividir com a mídia o seu eventual sucesso. Nada mais justo!

No próximo post, eu concluo essa reflexão e dou umas pinceladas sobre algumas (não todas) as convocações do técnico Dunga.

Um comentário:

  1. Montanha.
    Assim como você, também sou apaixonado por Futebol.

    Por acompanhar bastante o cotidiano desse esporte, sabemos que vários jogadoses que tem ou tiveram excelente desempenho em clubes, foram péssimos em seleção. Lembro-me do edmundo como exemplo.
    ao não convocar Neimar e Ganso, Dunga foi no mínimo coerente.

    Se você estivesse no comando da seleção, levaria para uma copa do mundo 2 jogadores aos quais não pôde testar o desempenho em seleção?

    Eu não o faria.

    E outra: Dunga fez exatamente o que a maioria dos técnicos de seleções européias faz.

    Não abrem mão de experiências, mas procuram repetir, sempre que possível, o mesmo timo ou grande parte dele durante a preparação para a copa, buscando introsamento. E logicamente, nada mais natural do que convocar esse time.

    ResponderExcluir

Não criei este blog para falar sozinho. Portanto, deixe o seu comentário! Siga-me também no Twitter.