segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Presente para os cegos: descrição completa do vídeo do Natal Digital

Um dos vídeos mais em voga nos últimos dias no Youtube é o que recria o episódio do nascimento de Jesus, contextualizando o fato para a era das redes sociais, sites de relacionamento, sistema de compras online e outras ferramentas dos nossos dias. Ocorre que, para pessoas cegas, como é o meu caso, o vídeo não passa de uma porção de barulhos característicos de programas de computador, muita digitação e a trilha musical por conta da versão de Jingle Bells para harpa paraguaia, versão que, diga-se, aparece em oito de cada dez comerciais natalinos.

Quando cliquei no link do vídeo pela primeira vez, reclamei, pelo Twitter, da falta de uma audiodescrição, afinal, não havia qualquer narração para que pudéssemos saber o que se passava na historinha. No dia seguinte, recebi um e-mail do meu amigo Jério Eber, parceiro em algumas canções e amigo há quase duas décadas. Lá estava a descrição completa do vídeo, inclusive com as legendas. O trabalho ficou tão bom e tão minucioso que, na minha opinião, seria injusto privar outros cegos de desfrutá-lo.

Por isso, seguem os links para o vídeo e para a descrição. Aliás, além de um excelente profissional de informática e de um baita letrista, o Jério está se mostrando também um ótimo roteirista para audiodescrição. Quem sabe???...

Para assistir ao vídeo do Natal Digital, Clique aqui. Para ler a descrição minuciosa e muito bem feita do meu amigo Jério Eber Pereira, Clique aqui.

Se você deseja seguir o meu amigo Jério Eber no Twitter, o que eu recomendo fortemente, procure pelo @Comjota. É uma dose diária de crítica com um delicioso sarcasmo e muito bom humor.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Brasília: 50 anos para o Brasil, um ano para mim


As pernas pareciam não me obedecer naquela tarde. Não era a primeira e nem seria a última vez que eu daria os passos que separavam o saguão da sala de embarque do aeroporto de Confins, mas, naquele momento, a porta, o detector de metais, o raio X, enfim, tudo tinha um significado especial. Depois de 28 anos, 8 meses e 22 dias morando na mesma cidade, a Belo Horizonte onde cheguei aos 7 anos, eu dava um passo adiante em minha vida pessoal e profissional. E que passo! Um passo de quase 800 quilômetros, ficando ainda mais distante do mar, cercado de Goiás por todos os lados.

Já havia algum tempo que eu tinha vontade de vir para Brasília, muito mais pelas oportunidades profissionais que isso me reservava do que propriamente por achar a cidade atraente. E, naquele momento no aeroporto, a situação era ainda mais complicada. Por questões profissionais, Marisa, minha esposa ainda não estava vindo comigo. Enquanto isso não fosse possível, eu me viraria morando em um flat, que me facilitaria muito a vida pelo fato de possuir serviço diário de arrumação. Assim, foi com duas malas enormes, meu violão, mochila nas costas e um coração comprimido no peito que tomei aquele voo de fim de tarde e pousei na capital do país antes que a noite chegasse por inteiro.

Se, por um lado, eu deixava grandes amigos (de quem nunca me esqueço) em Belo Horizonte, outras amizades começavam a aparecer no Planalto Central. Uma delas se manifestou exatamente na minha chegada. Uma das participantes da lista de discussão de utilizadores e interessados no tema "Cão Guia", Fernanda, que atua como voluntária na socialização de futuros cães guias no projeto Integra, aqui no Distrito Federal, perguntou-me por e-mail se eu tinha quem me apanhasse no aeroporto. Eu disse que não e ela se ofereceu não só para me buscar como para dar as primeiras orientações nas proximidades do flat onde eu iria morar. Foi muito bom encontrá-la na saída da sala de desembarque. Assim que colocamos as coisas no carro dela e começamos a andar, ela foi tentando me explicar a tal lógica dos endereços de Brasília. Eu já havia estado na cidade algumas vezes e tinha amigos que haviam tentado a mesma missão. Mas agora, pensava eu, era imprescindível que eu aprendesse esse sistema de setores, quadras e blocos, ou eu teria dificuldades para me locomover na cidade. Certamente não foi naquela tarde-noite que eu aprendi, mas as coisas começaram a fazer algum sentido.

No flat, o porteiro se assustou com o fato de um morador completamente cego e só estar se mudando. Ele ficou tão apavorado que começou a se dirigir a Fernanda em vez de falar comigo, o que me obrigou a chamar sua atenção para o fato de que o morador seria eu e não ela. Corrigida a falha, o cara começou a agir um pouco mais naturalmente e me perguntou as informações necessárias para preencher a ficha de entrada.

Depois de me ajudar a fazer o reconhecimento do apartamento, auxiliando inclusive na marcação em braile das teclas em baixo relevo do microondas, Fernanda me levou ao Brasília Shopping, para que eu pudesse jantar e passar em uma loja em que um vendedor me ajudasse a dar um nó em minha gravata. É que, infelizmente, ainda não aprendi a dar nó em gravatas, principalmente porque nunca tentei aprender. Como eu tinha mandado as gravatas para a lavanderia antes da viagem, os nós foram desfeitos e eu precisava resolver aquilo rapidamente, porque minha posse como servidor da Câmara dos Deputados seria na manhã seguinte.

Tudo resolvido, Fernanda me deixou na porta do flat e seguiu seu caminho. Era difícil entrar naquele pequeno apartamento com sala e cozinha americana, quarto e banheiro, e pensar que, durante algum tempo, aquela seria minha casa. Era difícil pensar que, no dia seguinte, eu precisaria sair dali em direção ao Congresso Nacional, mal sabendo onde ele ficava. Era difícil não saber sequer um número de ônibus e quanto ficaria uma corrida de táxi até o local. Será que 20 reais bastariam ou seria necessário desembolsar uns 50? Contudo, mais difícil era viver tudo isso distante da pessoa com qem eu havia dividido cada centímetro quadrado da minha vida nos últimos 11 anos. Faltavam 19 dias para o nosso aniversário de casamento. E eu pensava como determinados momentos da nossa vida podem ser cruéis. Tínhamos combinado que ela viria passar comigo o meu aniversário, mas a data do casamento passaríamos longe um do outro.

Mas tudo isso já tem um ano. Nesse 9 de novembro de 2010, completaram-se 365 dias que cheguei a esse lugar que, cada dia mais, considero minha casa. Principalmente porque Marisa, esse grande presente que Deus me deu, está comigo todos os dias. É muito bom sair para o trabalho sabendo que, na volta, estaremos juntos de novo. Desde 14 de maio, quando ela se mudou definitivamente para cá, Brasília passou a ter mais sentido para mim.

É claro que ainda temos muito o que aprender, muito que nos acostumarmos nessa cidade tão diferente da nossa. Mas, aos poucos, ela também vai se tornando nossa. Queremos mostrar às pessoas que aqui vêm a Catedral, o Congresso, o Centro Cultural Banco do Brasil, o Lago Paranoá, enfim, queremos mostrar a Brasília que agora faz parte de nós. E é assim que, pouco a pouco, a Brasília que, para os brasileiros, fez 50 anos, cria em mim suas raízes. Afinal, minha Brasília tem apenas um ano. Estou feliz.

Para que serve o Enem?

O mais recente embróglio no qual se meteu o Ministério da Educação, na tentativa de explicar o inexplicável e justificar o injustificável, isto é, o segundo ano seguido de problemas na aplicação do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), trouxe ao debate as evidentes fragilidades da instituição no aspecto organizacional/logístico. As falhas verificadas no ano passado, com o extravio de provas e o vazamento de dados dos estudantes cadastrados para realizar o exame, já deveria ter servido de bom alerta para que, no Enem 2010, o governo tivesse um pouco mais de critério na contratação das empresas responsáveis pela prova, desde sua elaboração até etapas como impressão, transporte e distribuição. Os acontecimentos deste ano provam que isso não ocorreu.

Entretanto, os sucessivos problemas na aplicação do Enem podem não trazer a baila uma discussão talvez mais importante do que a simples logística. E, infelizmente, a imprensa gasta às vezes tempo demais no superficial e aprofunda de menos as discussões que deveriam ser centrais, mas passam a ser periféricas. Nesse caso, pouco se falou no objetivo da aplicação do Enem, ou seja, para que ele serve. Penso que esse deveria ser o centro da discussão. Toda a polêmica criada em torno da aplicação do exame só teve lugar porque, com a adoção da nota do Enem, total ou parcialmente, como critério para o ingresso nas universidades públicas, ele passou a ter uma importância vital para os estudantes em vias de concluir o ensino médio. Talvez, se as notas não tivessem tanto valor, alguns estudantes não estariam tão preocupados se o seu caderno de questões era amarelo ou de qualquer outra cor, se o seu gabarito estava correto etc.

Ora, todo esse frenesi ocorre exatamente porque, nos últimos anos, o governo inverteu o papel que cabia ao Enem, que passou a ser muito mais uma espécie de substituto para o vestibular do que um sistema de avaliação do ensino médio, objetivo para o qual ele foi criado. Para quem não se lembra, o Exame Nacional de Ensino Médio foi criado ainda no governo FHC, algum tempo depois do Exame Nacional de Cursos, o chamado Provão, instituído para avaliar o ensino superior. Apesar de criticar duramente o Provão, com bastante barulho feito pela União Nacional dos Estudantes (UNE), o PT manteve o sistema, trocando apenas o nome para Enad, e manteve com o mesmo nome o Enem. Partiu de algumas universidades a iniciativa de utilizar a nota do Enem como parte da avaliação para o ingresso de novos universitários. Posteriormente, o governo alinhavou um grande acordo com as universidades federais, que permitiu aos estudantes pleitear vaga em um determinado curso em dada instituição a partir do resultado obtido no exame.

Esse sistema trouxe vantagens, como o fim da necessidade de se prestar vários vestibulares. Por outro lado, o objetivo que ensejou a criação do exame, ou seja, avaliar as instituições de ensino médio no Brasil, se perdeu completamente. E a razão é simples: se a nota do Enem determina o ingresso ou não do estudante em determinada universidade em um certo curso, é evidente que o foco do aluno passa a ser um bom resultado na prova. Assim, ele se prepara, estuda a partir de provas passadas, chegando, em alguns casos, a frequentar cursos preparatórios para prestar o exame.

Ora, como é possível avaliar a escola na qual o indivíduo cursou o ensino médio se ele, em vez de levar com normalidade sua vida acadêmica, passou horas por dia se preparando para esse exame? Na verdade, o que está-se avaliando com o Enem é a capacidade dos alunos de absorver conhecimento a partir de uma atividade intensa de estudos, ou seja, exatamente o mesmo tipo de avaliação feita com o vestibular. Bingo! Dá então para deduzir que o Enem não é sequer um substituto para o vestibular, posto que o Enem nada mais é do que um vestibular em nível nacional.

O resultado disso é que o governo não dispõe atualmente de instrumentos/mecanismos eficazes para avaliar o ensino médio no país. O papel do Enem para esse fim foi suprimido e nada foi colocado no lugar. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) poderia ser uma resposta a essa lacuna, mas ele é amplo demais para obtermos um retrato especificamente sobre o ensino médio.

É evidente que o clássico vestibular, sozinho, não era o instrumento adequado para o acesso à universidade. Mas utilizar o Enem para isso configura outro erro, desviando o propósito de um instrumento criado para algo tão vital quanto entrar para o ensino superior: avaliar o ensino médio para corrigir suas falhas e permitir que o aluno que ingresse na universidade esteja mais bem preparado.

domingo, 29 de agosto de 2010

Meu quintal é minha rua


Nos felizes dez anos da minha vida que passei no bairro Palmeiras, região oeste da minha querida BH, curti ao máximo o fato de minha casa ter um quintal, e bem grande! E de todas as alegrias que o quintal mais me proporcionava, o canto dos pássaros era sem dúvida a do topo da lista.

Como um desafiador da madrugada, tive o privilégio de observar o amanhecer do dia por diversas vezes. E parecia que os instrumentos, ou seja, os pássaros, seguiam uma ordem previamente estabelecida e perfeitamente ensaiada. Primeiro, as garrinchas e os bem-te-vis. A eles, somavam-se os pardais com seu pio, dependendo da época o sabiá, e, por volta das 7h, um bando de maritacas aparecia voando e fazendo uma grande festa. Aquilo tudo era música aos meus ouvidos, tanto quanto a Nona de Beethoven ou um belo tema de Miles Davis. Eu costumava dizer que eu tinha inúmeros passarinhos em casa, mas todos soltos, que iam e vinham quando tinham vontade, exatamente como tem que ser.

Quando me mudei para Brasília, em novembro do ano passado, fiquei pensando nas perdas que teria. Não é fácil mudar de casa para apartamento, sobretudo apartamentos pequenos. Mas uma das coisas que me preocupava realmente era se eu teria a presença dos pássaros tão perto de mim. Achava que não. Para minha alegria, eu estava errado.

Brasília é uma cidade que tem como característica marcante a disponibilidade de áreas verdes. Além do famoso Parque da Cidade, imortalizado na canção Eduardo e Mônica, de Renato Russo, as quadras residenciais do Plano Piloto possuem muitos espaços arborizados. E onde existem árvores, lá estão os pássaros para fazer sua festa sobre os galhos. As quadras numeradas com a centena 700 (para entender como funciona a numeração das quadras é preciso um artigo a parte) são constituídas por casas geminadas, com espaços bastante amplos na frente, sem muros em grande parte delas. Nesses quintais de frente, também há árvores e muitos pássaros.

Perto do prédio onde moro, o joão-de-barro é o primeiro a dar o tom da orquestra. A ele, segue-se o bem-te-vi e os pardais, mais uma turma de outras aves cujo som não conheço bem.

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As fotos deste post são de anus, aves que geralmente andam em bandos e são excelentes caçadoras de insetos. Quando estão se alimentando, não fazem muito barulho, mas seu som de alerta é bem característico. Essas aves também aparecem muito por aqui.

Fico muito feliz pelo fato de poder continuar a desfrutar da companhia dos pássaros. Se não os posso ter mais no quintal da minha casa, então que a rua seja meu quintal! Em Brasília, essa é uma grande verdade. Os espaços de convivência são muitos e a rua, o parque, os jardins, tudo acaba se transformando num grande quintal para todos nós. Espero que saibamos cuidar dele.

sábado, 21 de agosto de 2010

Quem é o vencedor?


Assistir à derrota de um campeão não é algo bom, sobretudo quando se sabe que o atleta em questão é um dos maiores motivos de orgulho para o Brasil nos últimos tempos. Nesta noite de sábado, César Cielo (foto 1) ficou com a medalha de prata na final A dos 50 m nado livre, no Pan-Pacífico de natação, que está sendo disputado na Califórnia, EUA. E, como é seu costume, ele não ficou satisfeito com outro resultado que não fosse a vitória.

A frustração por não ficar em primeiro lugar em uma competição, a cobrança de si próprio por um melhor rendimento, o inconformismo diante de um resultado que, para o torcedor, não parece ruim, mas para o atleta é sim uma derrota, tudo isso pode parecer uma certa presunção ou arrogância de quem não sabe perder. Mas o fato é que o sentimento contrário, ou seja, a sensação de dever cumprido ao se conquistar um segundo ou um terceiro lugar, a celebração de um vice-campeonato como se um título fosse, são elementos que contribuem fortemente para o mau desempenho de alguns atletas brasileiros em competições de alta performance. O que faz de César Cielo um campeão não é só seu grande talento e capacidade de rendimento como atleta, mas o fato de reconhecer em si mesmo um campeão e não aceitar a derrota como um resultado normal. Pode ser normal se o atleta se preparou para a prata, o bronze, ou simplesmente pela classificação para a final. Mas, para quem se prepara para o ouro, a prata não pode ser considerada normal.

Então, o Montanha está dizendo que só é vencedor quem ganha a medalha de ouro? Certamente não. Estou dizendo que só é vencedor quem atinge a sua meta. Um exemplo é o bronze da Fabíola Molina conquistado na noite de quinta-feira, no mesmo torneio, nos 50 m costas. Para uma atleta de 35 anos, competindo com garotas até com menos da metade de sua idade, o terceiro lugar é uma vitória. Afinal, ela tem plena consciência de que a idade é um fator que diminui seu rendimento frente às concorrentes e que ela muito provavelmente está fora da briga pelo ouro. Assim, sua meta é buscar o melhor resultado possível, de preferência uma medalha, diante da desvantagem que tem. E Fabíola Molina conseguiu!

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Creio que o melhor exemplo que posso dar em contraposição a César Cielo é o de Felipe Massa (foto 2). A polêmica sobre a ultrapassagem amigável de Fernando Alonso, no dia 25 de julho último, assim como ocorreu com Rubens Barrichello e Schumacher em 2002, mostra um tipo de esportista infelizmente cada vez mais comum: que coloca o dinheiro acima de sua honra como atleta e de sua ética desportiva, que não têm o devido apreço pela vitória ou as duas coisas juntas. Nunca torci por Felipe Massa por não o considerar um grande piloto. Mas o episódio com Alonso mostrou o comodismo de alguém que não quer arriscar a conta bancária em nome de um reconhecimento por agir de maneira ética. Pior: a punição de apenas Us$100 mil aplicada à Ferrari mostra que a Federação Internacional de Automobilismo é conivente com essa prática.

A postura de vítima adotada por Massa e por parte da imprensa brasileira não escondem o fato de que, tanto quanto Alonso e a Ferrari, o piloto brasileiro foi responsável pelo que aconteceu no Grande Prêmio da Alemanha de F-1. O que a FIA deveria ter feito, a meu ver, seria retirar os pontos da Ferrari no mundial de construtores e igualmente dos dois pilotos na competição, promovendo cada um dos demais pilotos em duas posições na linha de chegada. Assim, o terceiro colocado seria declarado vencedor, o quarto ficaria em segundo e assim por diante.

A questão é, portanto, muito mais complexa do que ser primeiro ou segundo lugar. Não pode ser considerado vencedor o atleta que, tendo as condições físicas e técnicas para estar em primeiro lugar, não tem a vitória como único e exclusivo alvo. Não pode ser perdedor o atleta que não chega em primeiro, mas sabe que, por uma limitação qualquer, não poderia ir além e chegou ao melhor resultado possível. Massa é um piloto jovem, tem um ótimo carro e experiência considerável. Tem portanto os requisitos para ser vencedor, mas não é. César Cielo também tem os requisitos para ser campeão e, quando isso não acontece, ele não se conforma. E é por isso que ele é um vencedor.

A gente fica cansado de tanto escutar o hino dos Estados Unidos nas competições internacionais e se esquece de perguntar o porquê. É porque o espírito esportivo do norte-americano está baseado no pressuposto de que é preciso vencer, não apenas competir, como foi o caso da ginasta, cujo nome não recordo, que terminou sua série e saiu carregada, chorando com dores insuportáveis, mas conquistou o ouro para o seu país.

Alguém já disse que o segundo colocado é só o primeiro entre os perdedores. É claro que o pensamento é radical e intolerante demais e o torcedor não deve adotar essa idéia como filosofia. Mas, para o atleta, um pouco de radicalismo, de obsessão pela vitória, não faz mal nenhum. E se não nos conformássemos tanto com resultados medianos, talvez nossa performance em grandes competições, como os Jogos Olímpicos, seria melhor.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Vida longa aos gatos, pretos ou não, e uma ótima sexta-feira 13!


Desde pequeno, eu sempre tive um macabro interesse por histórias macabras. Não é por acaso que sou fã da série Twilight Zone, sobretudo das histórias feitas para o rádio, que despertavam mais ainda a imaginação da gente. Mas, ao contrário de muita gente, que tem um certo receio ou medo de ouvir ou assistir a esse tipo de drama, eu encaro tudo com muito humor e, quanto maior o medo que a história possa causar, mais eu acho interessante. Acho que o melhor lugar e hora para se contar uma história verdadeiramente aterrorizante é em um lugar escuro como o nosso quarto ou a sala, à meia-noite e de preferência com bastante frio e vento lá fora.

E se há uma coisa que não falta numa sexta-feira 13, como hoje, são histórias macabras, envolvendo gatos pretos, caveiras, cemitérios, fantasmas e tudo mais. Mas por que será que o número 13, e especificamente na sexta-feira, tem tanta influência sobre as ações dos mais supersticiosos? Por que tem gente que não fecha negócios numa sexta-feira 13? Outros não viajam, não saem de casa, não passam em determinados lugares... Enfim, o que não falta é gente que, de uma maneira ou de outra, muda suas atitudes por causa da combinação do dia da semana e do dia do mês.

Não tenho a resposta para isso e sinceramente não vou empreender uma pesquisa minuciosa para buscar alguma resposta convincente. Mas uma das coisas que se comenta por aí é que a má fama do número 13 está ligada à Última Ceia, episódio que marcou a despedida de Jesus dos seus discípulos, pouco antes de sua crucificação e morte. Segundo os evangelhos, Jesus se reuniu com seus discípulos para celebrar a Páscoa, que, na tradição judaica, marca a saída do povo hebreu do Egito e o retorno à terra de Canaan, sob a liderança de Moisés. Pois bem: o número 13 não aparece na narrativa da Última Ceia, mas nem precisa. Se lá estavam apenas Jesus e os seus discípulos, que eram 12, fica fácil deduzir que havia 13 pessoas à mesa naquela noite. Não nos esqueçamos ainda que foi durante a ceia que Jesus anunciou que seria traído por um dos 12. Para completar, a história diz que a crucificação se deu numa sexta-feira.

Existem ainda duas lendas de origem nórdica que explicam a má fama da sexta-feira 13 ou, mais especificamente, do número 13 como sinal de azar, mas não vou entrar em detalhes sobre elas. Prefiro falar do gato preto! Pobre animal! Desde o início da idade moderna, por volta do século XVI, que o gato preto ganhou fama de trazer má sorte. Conta-se que, pela sujeira muito grande das cidades européias nesse período, e pelo consequente aumento da população de ratos, não faltava alimentos aos gatos, que por sua vez também se multiplicavam. Gatos de todas as cores, mas foi o gato preto que acabou associado à feitiçaria e foi duramente perseguido. Acreditem: um decreto do Papa Inocêncio VIII considerava o gato preto um ser erege. Por isso, vários deles foram queimados na Inquisição, junto com os humanos considerados feiticeiros.

Por causa de todas essas crendices, a sexta-feira 13 e o pobre gato preto ganharam fama de trazerem azar. Para mim, nada muda, exceto pela vontade de abordar o tema numa postagem do blog. E, se algo acontece de errado na sexta-feira 13, não credito o ocorrido ao dia da semana ou do mês, mas é claro que aproveito a situação para tirar onda. Um dos fatos mais inusitados de que me lembro foi em 1984, quando viajamos de BH para o Rio de Janeiro minha irmã, meu pai, minha mãe e eu, a fim de passar alguns dias de férias. Era no dia 13 de janeiro, sexta-feira, que o trem Vera Cruz nos levaria. A partida estava marcada para as 20h15, mas, por causa de defeitos no sistema de refrigeração, partimos com mais de duas horas de atraso. Não houve quem não brincasse com a situação, afirmando que havia um gato preto embaixo do trem, segurando a partida. Quanto poder pode ter um gato preto!!!

Mas, se a sexta-feira 13, à meia-noite, já é motivo para assustar alguns, imagine a sexta-feira 13 com duas meia-noites! Pois o fato aconteceu, no Brasil, em 1987. Normalmente, tanto o início como o fim do horário de verão acontecem na noite de sábado para domingo. Não me pergunte o porquê, mas, em 1987, o fim do horário de verão ocorreu na noite de sexta-feira para sábado, exatamente do dia 13 para o dia 14 de fevereiro. É por isso que a sexta-feira, 13 de fevereiro de 1987, teve, no seu término, duas meia-noites, já que, quando os relógios marcavam 0h, foram atrasados em uma hora, voltando às 23h, chegando novamente, dentro de uma hora, às 0h. Ou seja, a sexta-feira não só teve duas vezes a marcação de 0h, como durou 25 horas! Uma hora a mais de terror para os supersticiosos!

E o vírus de computador mais famoso da história? Alguém se lembra do lendário Sexta-Feira 13? Era um verdadeiro pânico, e pane, causados em sistemas informatizados pelo mundo a fora. Toda sexta-feira 13, o vírus atacava bancos de dados e causava enorme destruição em discos rígidos, causando um prejuízo assustador em empresas no mundo inteiro.

No fim disso tudo, só acho uma tremenda injustiça colocar a responsabilidade nos gatos pretos pelo azar, ou má sorte, ou o que quer que seja. Acreditar em mitos ou lendas é um direito de qualquer pessoa, mas os animais não precisam sofrer por causa da superstição dos humanos. Atualmente, tanto as associações que cuidam de animais abandonados quanto os centros de controle de zoonoses estão atentos e, quando aparece alguém querendo um gato preto para criar, esses animais não são liberados em datas próximas à sexta-feira 13. Boa atitude. Infelizmente, ainda tem gente que deseja levar sua crença aos extremos ou têm mesmo um espírito cruel. Não tenho gatos e não tenho vontade de tê-los. Mas tenho um grande respeito por eles e sou contra qualquer tipo de crueldade contra qualquer animal. Ao contrário do que se diz, gato não tem sete vidas. Tem apenas uma, e é preciso preservá-la. Pretos ou de qualquer outra cor, vida longa aos gatos e que a sexta-feira 13, deles e nossa, seja repleta de muitas coisas boas.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Só faltou dizer que a nova Amarelinha é perfeita

Passam as copas, mas não muda a mentalidade do torcedor brasileiro: em time que está perdendo, deve-se mexer e muito. A verdadeira babação que se criou em torno da chamada Nova Seleção Brasileira, sob o comando de Mano Meneses, não passa de repetição, talvez amplificada, do que se passou logo depois de uma eliminação do Brasil nas 12 copas que não ganhamos. Talvez, a seleção de 1982 tenha sido exceção, tanto que o o treinador Telê Santana voltou a dirigir a Amarelinha quatro anos depois, no México. Mas, de derrota em derrota, a conversa é sempre a de que está tudo, mas tudo mesmo, errado e uma renovação é necessária.

Não foi diferente em 2006, logo depois do fiasco, já previsto por quem entende minimamente de futebol, da seleção sob o comando de Carlos Alberto Parreira. Quando Dunga iniciou seu trabalho, a esperança de uma nova seleção tomou conta de todos, a imprensa especialmente. Mesmo com a reserva pelo fato de Dunga jamais ter sido técnico de um time de várzea que fosse, havia o discurso quase unânime de que, por ser um jogador de grandes conquistas, por ter um título mundial na bagagem, o capitão do tetra faria um trabalho empolgante. E começou assim, com a convocação de inúmeros jogadores que não haviam sido chamados por Parreira, mas que o público e a mídia afirmavam que deveriam estar na seleção. O casamento não durou muito. A seleção não ia muito bem na primeira fase das eliminatórias para a Copa da África do Sul e as vaias ao time começaram a aparecer nos estádios. Mas a vitória na Copa América e na Copa das Confederações, somada à ótima campanha do Brasil na segunda fase das eliminatórias fizeram o torcedor voltar a confiar na seleção.

Quando a base da seleção para a Copa estava formada, depois do título da Copa das Confederações, apareceram os tais "Meninos da Vila" e a pressão pela convocação de Ganso e Neymar para a seleção foi enorme, até o dia da divulgação da lista final. Dunga não cedeu e preferiu apostar na base que havia montado. Já escrevi, quando da convocação, que Dunga acertou a mão ao não convocar os jovens talentos do Santos, em primeiro lugar porque nunca havia trabalhado com eles, portanto seria uma primeira convocação e diretamente para a Copa do Mundo. Em segundo lugar, porque a seleção já havia feito um trabalho de quatro anos e portanto tinha um esquema tático, que seria mudado caso os garotos fossem convocados. Fato é que Dunga acertou e errou (para mim, acertou mais do que errou) em sua passagem pela seleção. Talvez, alguns dos erros lhe tenham custado a Copa 2010, mas, insisto, a trajetória dele pela Amarelinha foi vitoriosa.

Agora, depois da eliminação contra a Holanda na África do Sul, a história se repete. É claro que eu esperava um certo ufanismo da parte dos responsáveis pela transmissão do jogo do Brasil contra os Estados Unidos, que aconteceu na noite dessa terça-feira. Mas confesso que fiquei surpreendido com o que assisti. À medida em que o jogo foi se desenrolando e a seleção venceu o nvervosismo inicial e começou a jogar bem, parecia que estávamos diante de um espetáculo jamais visto, tal era a intensidade e o tom dos elogios feitos ao time. Expressões como "resgate do futebol arte", "o jeito brasileiro de jogar", "uma nova Seleção Brasileira" etc., foram repetidas à exaustão.

Acabado o jogo, quando pensei que as análises viriam com um pouco mais de frieza e objetividade e com menos apaixonite, notei que o objetivo dos comentaristas e do narrador Luiz Carlos Junior, do SporTV, era convencer de que essa seleição que iniciou seu trabalho nesse amistoso é a seleção que o povo brasileiro, de quem a imprensa costuma se julgar porta-voz, desejava ver em campo. Logo no início da transmissão, o comentarista Paulo César Vasconcelos disse que a seleção era muito promissora, em primeiro lugar, porque tinha três jogadores do Santos. Então, se tivesse 22, ou seja, todos os titulares e reservas da Vila Belmiro, o time seria imbatível? Impressionante também como tudo que o treinador Mano Meneses fazia ou dizia estava correto, cheio de razão. Nos comentários finais, até mesmo o fato de o Brasil ter desperdiçado inúmeras oportunidades de gol, no segundo tempo, foi encarado como positivo pelos comentaristas. Afinal, diziam, foi uma equipe que não perdeu o ritmo de jogo na etapa complementar, manteve a pegada. Só não foi feliz na finalização.

Fato é que uma coisa é perder gols contra a seleção dos Estados Unidos que, mesmo tendo melhorado muito nos últimos anos, apresenta várias fragilidades. Outra coisa é perder gols contra uma seleção que, se tiver oportunidade, não perdoa. Será que, se o Brasil perder tantos gols contra a Espanha, não correremos o sério risco de tomarmos gols? Mas, tirando as críticas pelos constantes erros de passe do lateral Daniel Alves, o Brasil, na visão dos comentaristas do SporTV, parecia não ter defeitos. E mais, mesmo com a estreia de vários jogadores com a camisa da seleção, Neymar e Ganso eram os destaques citados. Nem mesmo Alexandre Pato, que fez um golaço e jogou uma excelente partida, mesmo tendo vindo de contusão, só foi elogiado pelo comentarista quando o narrador perguntou sobre a atuação do jogador.

Não estou aqui para dizer que a seleção que atuou diante dos Estados Unidos não merece elogios. Ao contrário, merece, tanto pelo futebol ofensivo que apresentou, quanto por não deixar de marcar, tanto que as jogadas ofensivas dos norte-americanos foram poucas. Mas é preciso mais cuidado ao analisar esse jogo do que tiveram os meus colegas do SporTV. Em primeiro lugar, porque uma seleção que treinou apenas por dois dias não tem como definir um esquema tático. Nenhum treinador, por mais mágico que seja, implanta uma filosofia de trabalho em dois dias. Portanto, dizer que essa seleção tem a cara do Mano Meneses é, no mínimo, precipitação e falta de conhecimento sobre futebol. Ora, se não há um esquema tático, o que deve fazer um técnico de bom senso? Interferir o mínimo possível na capacidade dos talentos individuais do time, ou seja, deixar o time jogar. E aí, claro, os talentosos se destacam.

No decorrer e depois do jogo, fiquei acompanhando as manifestações no Twitter, praticamente todas muito empolgadas, afirmando, dentre outras coisas, que os 45 minutos do primeiro tempo do amistoso valeram mais do que toda a Copa da África. Nada contra a manifestação das pessoas. Aliás, acho até muito positivo que o torcedor se identifique com a sua seleção. O torcedor é um apaixonado por excelênvia e é assim que deve agir sempre. Mas a imprensa, esta tem por obrigação informar e opinar, mas com informações embasadas. É por isso que considero lamentável o festival de frases prontas e repetitivas protagonizado pela equipe do SporTV. Deixem a missão de se apaixonar para o povo. Quanto ao time de Mano Meneses, vamos ver, daqui para frente, como os "Meninos da Vila" se saem debaixo de um rigoroso esquema tático que, certamente, Mano Meneses vai implementar no Brasil a partir de agora. Aguardemos, mas sem empolgação exagerada.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A língua da Rafaela e o Montanha sumido!

Se alguém acha que a Rafaela do título é a personagem chatíssima de "Viver a Vida", interpretada com muita propriedade pela atriz mirim Clara Castanho, engana-se e muito. Trata-se de outra língua solta, também chamada Rafaela, também pequena, mas não por ser criança, e uma grande amiga que fiz no tempo em que trabalhava no Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Estou falando da jornalista Rafaela Freitas, uma das primeiras pessoas a visitar este blog e que já foi de cara fazendo um comentário com jeitão de "quem avisa amigo é". Disse a Rafaela que esperava que eu não a imitasse, criando blogs por aí e deixando todos abandonados. Com saltos de alegria por ter criado o blog, ignorei solenemente os comentários da moça, julgando que isso jamais ocorreria comigo.

Mas aqui estou eu, quase três meses depois da última postagem, turista do meu próprio blog, tentando retomar a "carreira". Ôh, língua! A verdade é que eu tenho várias justificativas para ter ficado tanto tempo sem escrever, todas obviamente estapafúrdias. São aquelas desculpas que explicam, mas não justificam, se é que me faço entender.

Logo depois da convocação da Seleção do Dunga, objeto dos meus dois últimos e longos comentários, fui absorvido pela rotina da procura de um apartamento para alugar. Ocorre que, desde que eu me mudara para Brasília, estava morando em um flat, já que minha esposa, por conta do vínculo com seu trabalho, continuou em Belo Horizonte por um bom tempo. Assim, durante o mês de maio, minha rotina era levantar cedo, vasculhar sites de imobiliárias, telefonar, buscar as chaves do imóvel, visitar, achar o apartamento um ovo ou uma espelunca, devolver as chaves e ir trabalhar, achando cada vez mais difícil minha tarefa heróica de encontrar um lugar ao menos agradável para morar. No final do mês, a busca resultou em algo frutífero, que é o apartamento onde estou morando atualmente, na Asa Norte. A mudança para o novo lar se deu na véspera da Copa do Mundo: uma semana sem Internet e telefone. A única coisa que me aprecei muito em colocar foi a TV por assinatura, para não ter que aguentar o Galvão Bueno de um lado e o Luciano do Valle do outro, na melancólica transmissão da Copa.

Bem, achei que a Copa do Mundo fosse me dar muita inspiração para escrever, mas acho que a Jabulane acertou a minha cabeça e as Vuvuzelas fundiram o meu cérebro, além da qualidade de alguns jogos que, convenhamos, funcionaram como fonte de desinspiração.

Acabou a Copa, voltou o Brasileirão e eu não sei mais se me sentava para esperar a próxima Copa, ou se encarava o gosto amargo de ver o meu time decepcionar mais a cada jogo.

Mas, tanto na vida como na blogosfera, as desculpas que inventamos para desaparecer por um tempo nada mais são do que uma tentativa, sempre frustrada, de disfarçar a nossa crise existencial, repito, seja ela no mundo presencial ou virtual. Mas, pelo menos para mim, sempre chega o momento em que percebo que a vida e a blogosfera são coisas muito boas, que valem a pena e para as quais a gente deve dedicar um tempo. Afinal, dizer o que se pensa e, principalmente, poder dizê-lo, ter um espaço para manifestar nossa opinião ou contar nossas aventuras pela vida afora, tudo isso é sempre muito agradável.

ortanto, e apesar da língua da minha amiga Rafa Freitas, e para quem não aguentava mais ficar sem os pitacos do Montanha (quanta humildade!), digo aos meus 15 seguidores e outros poucos ou tantos leitores que estou de volta! O fogão e a frigideira estão prontos e o Mexidão vai voltar a sair!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A voz da mídia é a voz do povo? (parte II)

Já que estamos falando de futebol, vou usar essa metáfora para dizer que o leitor André Carioca, que postou um comentário sobre a primeira parte desse artigo, pegou na veia, mandou no ângulo, enfim, acertou em cheio a respeito do que eu havia deixado para essa segunda parte. Ele foi exatamente na direção que eu vou tomar a partir daqui. Valeu André!

Como eu havia dito no post anterior, a razão principal do treinador para não ceder às pressões é o fato de que, venha bônus ou venha ônus, tudo vai cair sobre ele próprio, não sobre a imprensa ou sobre os supostos 190 milhões de técnicos de futebol que temos no país.

Mas não é só isso: a convocação de Dunga se sustenta ainda no princípio da coerência. Ao longo de quatro anos, o treinador foi experimentando daqui e dali na tentativa de construir uma equipe coesa e que jogasse segundo a sua filosofia de trabalho. Com raríssimas exceções, a seleção convocada para a Copa 2010 não difere das últimas equipes convocadas por Dunga. E os testes foram feitos. Ou ninguém se lembra que Wagner Love e Afonso já foram a dupla de ataque da seleção? Mas não se sustentaram e, na convocação para a Copa das Confederações, na África do Sul, o técnico fez talvez suas últimas experiências, para chegar a um time que tivesse, digamos, a sua cara.

Especificamente sobre Ganso e Neymar, há um outro ponto importantíssimo: eles estão acostumados a jogar no esquema tático do Santos de Dorival Junior que, convenhamos, é o mesmo que não ter esquema tático. O melhor que o treinador da Vila Belmiro faz pelos seus atletas é não atrapalhar, e isso ele tem feito muito bem, diga-se. No entanto, jogar pela seleção brasileira é uma realidade completamente diferente. Como inserir, de uma hora para outra, dois atletas que nunca atuaram pela seleção brasileira, que nunca jogaram sob o comando de Dunga, que não conhecem outra maneira de jogar que não seja a do time que os consagrou? Seria possível convocar, diretamente para o torneio mais importante do futebol mundial, atletas com tão pouca experiência? Eu não me arriscaria tanto. Mas a imprensa parece tratar copa do mundo como se fosse torneio de menor importância ou, piior, como se fosse uma sequência de amistosos. Não nos esqueçamos que a seleção não deve ter mais de 20 dias de preparação para a estréia no mundial, portanto a hora de fazer testes, experimentos, ensaios, já passou. Agora o que se precisa é de certeza, de uma equipe que entenda o que o técnico deseja sem que ele precise ficar desenhando 24 horas por dia.

Outro ponto levantado por alguns colegas da imprensa foi a comparação, a meu ver descabida, entre a convocação de Ronaldo em 1994 e essa reclamação em torno da não ida de Ganso e Neymar. Descabida por uma razão muito simples: a convocação para o mundial dos Estados Unidos não foi a primeira de Ronaldo para a seleção. Parreira já o havia testado em campo. Ainda assim, o Fenômeno ficou apenas no banco e nem mesmo na fatídica final contra a Itália, em que o jogo estava 0 a 0 na prorrogação, ele teve oportunidade de jogar. De mais a mais, o Ronaldo que jogava pelo Cruzeiro em 1994 era muito mais jogador do que Neymar na atualidade, até porque ele não tinha altos e baixos. Não nos esqueçamos que, no Brasileirão do ano passado, Neymar foi um jogador absolutamente apagado.

Outro aspecto que se coloca é a dicotomia entre o futebol arte e o futebol de resultados. Para mim, há que se buscar sempre associar as duas coisas, mas, se em algum momento uma delas tiver que sobressair, eu não tenho dúvidas sobre o que vou escolher. Afinal, a seleção de 1982 é considerada uma das melhores, senão a melhor, da história do futebol brasileiro. No entanto, voltou de mãos vazias. Por outro lado, o São Paulo venceu três vezes seguidas o campeonato brasileiro jogando feio, retrancado, lutando para não levar gols e vencendo por placares magros. Mas eu sou capaz de apostar que a torcida do São Paulo não ficou triste quando o título veio para as suas mãos. Convém lembrar que o enfoque na defesa não é exclusividade do futebol contemporâneo, mas do esporte coletivo contemporâneo. Não é por acaso que o voleibol valoriza cada vez mais o líbero, que o basquete dá uma importância capital aos bons reboteiros de defesa e que o beisebol valoriza mais os bons arremessadores, considerados jogadores de defesa, do que os bons rebatedores, que fazem parte do ataque.

Não estou com isso dizendo que concordo com a lista apresentada por Dunga. Eu teria outra lista e certamente cada brasileiro teria uma diferente da minha, que seria também diferente da do treinador. Mas eu acredito que a copa do mundo é um torneio de tal importância que não permite tiros no escuro. Se um sujeito, por mais cara fechada que seja, é escolhido para ser o técnico da seleção brasileira de futebol, cabe a ele a última palavra. Se seremos campeões, não posso afirmar, mas não há dúvida de que o retrospecto do Brasil sob o comando de Dunga é extremamente positivo. São 37 vitórias, dois títulos conquistados e uma seleção cada vez mais estável na sua maneira de jogar. Acho que temos grande chance de trazer o título. Mas, venha o que vier, Dunga será o responsável, e o melhor é que ele tem plena consciência disso.

A voz da mídia é a voz do povo?

Depois de assistir ao "Programa do Jô" desta noite, acho que posso tampar o balde que separei para recolher as lágrimas da choradeira aprontada pela imprensa, não pela seleção que o técnico Dunga convocou, mas pela que ele deixou de convocar. Se bem que o primeiro jornal em TV aberta do dia começa às 4h, no SBT, e certamente a choradeira vai voltar com força total. A conversa de camaradas entre Jô Soares e o ator Dan Stulbach, que, segundo o apresentador, foi chamado para a entrevista por ser um apaixonado e entendido de futebol, foi uma das melhores mostras do que aconteceu durante todo o dia, de telejornal em telejornal, de comentário em comentário. Afinal, por que o treinador da seleção decidiu não levar Paulo Henrique Ganso e Neymar? E quanto a Adriano e Ronaldinho Gaúcho? Será que é teimosia pura, apenas para não fazer a suposta vontade de todo o povo brasileiro? Será que Dunga deseja criar uma família no bom estilo Felipão e fazer a coisa do jeito dele, sem ouvir ninguém?

Se existe uma coisa difícil é entrar na mente de um técnico de futebol, mais ainda no caso de um treinador de seleção, que tem ao seu dispor uma quantidade muito maior de grandes talentos, o que, infelizmente, nem sempre acontece nos clubes. Entender portanto as razões que levaram Dunga a convocar o jogador X e não o jogador Y, é um desafio que nem mesmo os grandes especialistas devem enfrentar. Se tentarem, será puro exercício de psicologia de botequim. Eu, que não sou entendedor de futebol como Dan Stulbach e Jô Soares, mas sou apaixonado por esse esporte, posso dizer com certeza uma coisa, ou antes, dar uma opinião muito convicta: Dunga já deu o primeiro passo para quem quer ser campeão do mundo ao ignorar as pressões da imprensa e convocar a seleção pelo seu único e exclusivo julgamento.

Quem assistiu aos programas esportivos do fim de semana deve ter reparado que a pergunta reinante era se os chamados "meninos da vila" seriam convocados para a seleção. No encerramento da transmissão do GP da Espanha de F-1, o narrador Galvão Bueno chegou a pedir que Deus iluminasse a mente de Dunga. E emendou a seguir: "Será que Ganso e Neymar serão convocados?", deixando a entender que Deus iluminar a mente de Dunga seria o mesmo que inspirá-lo a convocar os dois jogadores. Ou seja, Galvão Bueno estava tentando ensinar Deus a ser Deus e Dunga a ser técnico da seleção brasileira.

Toda essa ladainha (e me perdoem os católicos pelo uso da expressão) em torno da seleção convocada e da que deveria ter sido convocada me remete à choradeira que se criou em 2002, na tentativa de pressionar o técnico Luiz Felipe Scolari a levar o atacante Romário para o mundial do Japão e Coréia. O jogador chegou a derramar lágrimas diante das câmeras para sensibilizar o treinador. Teve apoio da TV Globo e da imprensa, especialmente do Rio de Janeiro e o que se comenta é que até mesmo a direção da CBF tentou pressionar Felipão. Para mim, os motivos que levaram Scolari a não ceder foram os mesmos que hoje levam Dunga a deixar de fora jogadores que, na verdade, são muito mais os queridinhos da mídia, sobretudo paulista, do que do povo brasileiro, como a própria mídia tenta fazer crer. Se o Brasil perdesse a copa de 2002, certamente Felipão seria crucificado, não porque o time teria jogado mal, não porque teria faltado entrosamento, mas pelo puro e simples fato de Romário não estar na equipe. Oito anos depois, a história se repete: se o Brasil não for bem na África do Sul, será única e exclusivamente pela não convocação de Ganso e Neymar. No entanto, como o Brasil venceu em 2002, o assunto Romário ficou em segundo plano, tanto quanto ficarão os nomes de Ganso e Neymar se o Brasil for campeão em 2010.

No fim das contas, seja o resultado o título ou a eliminação, o sucesso ou o fracasso, tudo recairá sobre o treinador da seleção brasileira, não sobre a imprensa. Seja bônus, seja ônus, o que vier pertencerá a Dunga. Ora, se a mídia não está (e certamente não está) disposta a dividir com o treinador o seu eventual fracasso, ele tem, até por reciprocidade, o direito de não desejar dividir com a mídia o seu eventual sucesso. Nada mais justo!

No próximo post, eu concluo essa reflexão e dou umas pinceladas sobre algumas (não todas) as convocações do técnico Dunga.

domingo, 9 de maio de 2010

E acabou o Dia das mães... Ufa!

As estatísticas mostram que o Dia das Mães é o segundo em faturamento proporcionado ao comércio, perdendo apenas para o Natal. Tudo bem que o almoço em família é muito bom, que a oportunidade de encontrar os irmãos - desde que seja sem hipocrisia - é uma maravilha, que a mãe merece um presente até por ter aturado filhos cabeça dura como nós (ou será que você, caro leitor, quer me convencer que é um filho exemplar???).

Não obstante tudo isso, fato é que o Dia das Mães serve mesmo é para fazer girar a roda da economia, aumentar as vendas, por conseguinte abrir mais vagas para empregos temporários, baixar as taxas de desemprego e dar até uma forcinha ao PIB, afinal o comércio é hoje uma parte significativa da riqueza produzida pelo país. Dia das Mães é, portanto, um assunto mais para as colunas de economia do que para as seções de comportamento nos periódicos. Reza a história que a norte-americana Hannah Jarvis, responsável pela criação da data festiva, lutou para que o Dia das Mães fosse extinto, por causa do excessivo apelo comercial que a sua criação havia ganhado. Ambas as lutas, tanto pela criação do Dia das Mães, como pela sua extinção, tiveram causas nobres e há que se respeitá-las.

Para mim, o Dia das Mães tem algo de nostálgico misturado com um certo desejo de isolamento. Afinal, em 2010, passei o 12o ano em que eu não desfrutei da companhia de dona Maria José, aquela que, depois de Deus, é a maior responsável por eu ser quem sou e o que sou. Em 1999, ela, que sofria pelas sequelas de um AVC havia dois anos, estava morando com uma de minhas tias, no litoral norte fluminense e, por isso, não pudemos passar o Dia das Mães juntos. Mal sabia eu que não haveria outra oportunidade para isso. Dois meses depois, em 25 de julho de 1999, Maria José de Cerqueira Batista, minha mãe, educadora, companheira nas horas fáceis e difíceis e, sobretudo, grande amiga, entrava para o hall dos imortais.

Além da ausência de minha mãe, o Dia das Mães me leva a crer que Hannah Jarvis estava certa. Não só a data festiva tem um enorme apelo comercial, como eu disse no início, como serve para reforçar a idéia de que o papel único e exclusivo da mulher é, como diria o pessoal do Movimento Machão Mineiro, esquentar a barriga no fogão e esfriá-la no tanque. É fato que a coisa melhorou um pouco e, atualmente, lojas de roupas, concessionárias de veículos, perfumarias e casas especializadas em eletrônica e informática ganharam mais espaço na publicidade do Dia das Mães. Mas a grande maioria dos comerciais ainda é voltado para a venda de produtos que são para a casa, não para a dona da casa. E a mensagem é clara: qual filho vai dar uma batedeira de bolo para a mãe e dizer que ela não precisa fazer bolos, que ele sequer estava pensando nisso?

É claro que gosto de um bom almoço de domingo, de estar na companhia de pessoas de quem gosto, como minha irmã, minha sogra e minhas cunhadas. Gosto inclusive desse clima dos presentes etc. Mas é no Dia das Mães que a ausência de dona Maria José dói mais fundo. É por isso que, quando dona Laura Braga, mãe do cantor Roberto Carlos, partiu deste mundo, eu disse que poderia entender bem o que ele sentia, tanto pela proximidade do Dia das Mães, mas também pelo fato de eu estar longe de minha mãe quando ela se foi, exatamente como aconteceu com Roberto. Eis o porquê de uma certa melancolia de minha parte nesse dia, para muitos tão festivo. Mas eu espero que sempre haja mais gente para celebrar do que para se lamentar nessa data. E, de mais a mais, o Dia das Mães acabou, junto com o fim de semana. A segunda-feira está aí, portanto vamos voltar para a vida lá fora.

sábado, 8 de maio de 2010

Danieli Haloten confere desfile de moda para cães em SP


Minha amiga Danieli Haloten, jornalista e atriz paranaense que viveu a personagem Anita na novela "Caras & Bocas" (foto), esteve em São Paulo para conferir a recém-realizada semana de moda canina. O evento contou com desfiles e exposições de indumentárias para cachorros de todas as raças e portes e donos de todos os gostos e bolsos. O resultado da visita de Danieli ao evento foi uma matéria feita por ela e que
foi ao ar no Video Show na segunda-feira passada (clique aqui para assistir ao vídeo).

Muita gente já conhece a história dessa pequena guerreira curitibana, que conquistou seu primeiro papel em uma novela mandando e-mails insistentemente para autores, diretores e produtores, até que o novelista Walcyr Carrasco lhe pedisse para enviar um vídeo, mostrando sua performance. O trabalho de Danieli agradou, a ponto de o autor escrever um personagem para ela na novela das sete que iria estrear dentro de alguns meses. O resultado foi a Anita, irmã do protagonista de "Caras & Bocas".

Antes da novela, Danieli teve outras aparições na TV, como no programa local de entrevistas que apresentou em Curitiba e no quadro "Profissão Repórter", do jornalista Caco Barcelos, quando a atração ainda fasia parte do "Fantástico". Mas não há dúvidas de que foi a personagem Anita que colocou Danieli Haloten no seleto grupo de atores e atrizes globais, com direito a fã clube, aparições em vários programas da emissora e tudo o mais que caracteriza esse sucesso, almejado por muitos e conquistado por alguns que aliam talento e persistência, na certeza de que, em algum momento, chegarão onde desejam chegar.

Agora, voltando a atuar como repórter e fazendo uma matéria para o "Video Show", Danieli Haloten mostra que veio para ficar na TV e que a criação da personagem Anita não foi um gesto de boa vontade de Walcyr Carrasco, pura e simplesmente para ser o primeiro autor a inserir no elenco uma atriz cega. Anita foi só o início de uma carreira promissora de uma jornalista e atriz que exerce os dois ofícios com muita competência.

Mas, para descontrair um pouco, eu não posso terminar esse post sem dizer, mandando a modéstia às favas, que a maior qualidade de Danieli Haloten é fazer parte do seleto grupo dos meus amigos! E já voltando a falar sério, acho que é por essa amizade que eu posso falar ainda com mais propriedade sobre a sua luta para chegar ao objetivo de se estabelecer como atriz e jornalista de TV. É porque eu conheço a Dani, como os amigos a chamam, há sete anos, portanto antes da Globo e antes da Anita. Nossos cães guias são treinados pela mesma instituição, nos Estados Unidos, e passamos pela mesma triste situação de perder um cão guia precocemente. Hoje, felizmente, estamos novamente contando com a preciosa ajuda desses seres de quatro patas que tanto nos facilitam a caminhada pelas ruas e locais onde vamos. Enfim, é como amigo que lamentou com ela os momentos difíceis que eu celebro cada nova conquista de Danieli Haloten, ou simplesmente Dani.

Para saber mais sobre Danieli Haloten, clique aqui e conheça o blog da atriz.

Jornal O Tempo estréia novo visual na Web

O jornal mineiro O Tempo, da Sempre Editora, está de cara nova na Internet. Segundo o próprio site, o objetivo é tornar a navegação mais interativa e acrescentar conteúdo, como um espaço mais exclusivo dedicado ao esporte. Em entrevista ao portal Comunique-se, o editor do site dos jornais O Tempo e Super Notícia, Luiz Fernando Rocha, afirmou que o novo site traz ainda maior interação com as redes sociais e um espaço para a veiculação de matérias em vídeo, produzidas exclusivamente para a Internet.

Por razões óbvias, não posso tecer comentários a respeito do visual do novo site de O Tempo, mas posso avaliar a acessibilidade. Dei uma olhada superficial, mas parece que o pessoal responsável pelo novo visual dos jornais da Sempre Editora na Internet fez um brilhante trabalho nesse aspecto. Os links gráficos estão todos etiquetados, de modo que, ao ser acessado por uma pessoa cega, o portal esteja inteiramente navegável. Para explicar isso melhor, pense no seguinte: todos os links que você, que enxerga normalmente, vê em um determinado site são falados para os cegos através dos leitores de tela. Ocorre que, se o link for um ícone, o leitor de tela não tem como saber do que se trata e vai falar apenas que se trata de um link gráfico. Mas é possível resolver esse problema sem deixar de colocar os links gráficos nas páginas, ou seja, sem comprometer o visual do site. Basta que, ao construir a página, a pessoa etiquete os links gráficos através de um comando chamado "alt", que é inserido toda vez que se coloca uma imagem na página. Se o comando "alt" estiver em branco, o leitor de telas vai falar para o usuário cego o nome do arquivo da imagem, que muitas vezes não quer dizer nada. Assim, em alguns sites, ao passar por um link, nós cegos ouvimos apenas coisas como "menu_topo_01", "menu_topo_02" etc. Ora, com esses nomes, não temos como saber para onde o link está apontando e precisamos testar um por um para descobrir onde está o conteúdo que desejamos acessar.

Por outro lado, se o webdesigner se lembra de colocar no comando "alt" as palavras "notícias", "entretenimento", "editoriais" etc, mesmo que o link seja um ícone, essas palavras serão sonorizadas para os cegos através do leitor de telas. E, pelo que pude conferir até agora, o novo site do jornal O Tempo teve essa preocupação. Espero que, no dia-a-dia, à medida que os conteúdos vão sendo atualizados, o pessoal responsável pelo site não deixe a peteca cair e continue primando pela acessibilidade, aliada, claro, a um belo visual. Afinal, sabendo fazer a coisa, esses dois elementos não são de modo algum excludentes.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Nos seus 50 anos, Brasília mostra que tem muito a aprender em solidariedade


Brasília completou 50 anos no dia 21 de abril e, tanto na mídia local como na nacional, não faltaram reportagens e anúncios buscando ressaltar as qualidades dessa cidade inventada, aliás, a única no mundo construída com o objetivo definido de se tornar a capital de um país. Várias matérias destacaram a história do nascimento da cidade, os operários que aqui trabalharam, os episódios pitorescos envolvendo o presidente JK e como o que era só uma idéia foi ganhando contornos de boa parte da Brasília que hoje conhecemos. Nos anúncios, especialmente na mídia local, a exaltação ao povo brasiliense, sua mistura de sotaques, costumes e essa eterna busca da construção de uma identidade candanga. Até mesmo uma rede de drogarias da capital investiu em um anúncio cujo foco era "Pelo orgulho de ser brasiliense".

Ao assistir todas essas matérias e anúncios, eu fico com um enorme desejo no coração de que as coisas sejam realmente como descritas. Mas, após seis meses de residência no Planalto Central, minha impressão é um tanto diferente. Brasília é, para mim, um ótimo lugar para se trabalhar, mas difícil para se relacionar. Na minha condição de pessoa com deficiência, esse jeito de ser frio, indiferente e desligado do brasiliense se torna ainda mais cruel. Não raro, quando quero uma informação, preciso perguntar umas três vezes em um grupo de pessoas até que alguém me responda. Quando chego a um ponto de ônibus e existe um veículo parado, embarcando e desembarcando passageiros, pergunto de qual linha se trata e não ouço resposta. Pior: peço a uma pessoa que está no ponto para me avisar quando passar o ônibus que desejo tomar e, se a pessoa não vai tomar o mesmo ônibus e o dela passa antes, ela simplesmente vai embora sem avisar que está de saída. Resultado: eu penso que existe alguém atento para me avisar quando o meu ônibus passar, mas não há ninguém, o que certamente me faz perder o transporte.

Aliado a isso, existe a péssima qualidade do serviço de transporte do Distrito Federal. Para se ter uma idéia, na Esplanada dos Ministérios, um dos locais mais importantes de Brasília, não circula ônibus após as 20h. Se um funcionário do congresso Nacional ou dos ministérios precisa ficar até mais tarde no trabalho e não tem carro, a solução é tomar um táxi. Enfim, Brasília é uma cidade feita para quem tem carro e, claro, dirige. Digo isso porque, no meu caso, ter o carro não é o bastante. Possuo carro mas, como ainda não dão carteira de habilitação para cegos (risos), não posso dirigir. Minha esposa dirige quando estamos juntos e muitas vezes me leva e busca quando preciso me deslocar de carro, mas eu não acho que minha mulher tenha que ser minha motorista particular. Assim, eu gosto muito de ter minha independência para me deslocar e, numa cidade como Brasília, isso fica mais difícil.

Para se ter uma idéia de como a capital da república trata mal as pessoas com deficiência, cito o exemplo de um dos pontos mais caóticos da cidade: a rodoviária do Plano Piloto (veja foto). Para começar, é preciso explicar que essa rodoviária, que é o marco zero na divisão entre as asas sul e norte, nada tem a ver com a chegada dos ônibus intermunicipais e interestaduais, os chamados ônibus de viagem. Em Brasília, quem vem de fora chega pela Estação Rodo-Ferroviária, que fica mais afastada do centro da capital. A rodoviária do Plano Piloto funciona como uma estação terminal de ônibus vindos de todas as partes, tanto do Plano como das cidades satélites. Esse é um ponto positivo em Brasília. Se você não sabe onde passa o ônibus que vai para onde você quer, a saída é pegar um ônibus para a rodoviária e, de lá, tomar outro transporte. Além disso, a rodoviária dá acesso também à estação terminal do metrô, que infelizmente só cobre a Asa Sul e as cidades satélites que se estendem paralém dela, ou seja, Guará, Águas claras, Taguatinga, Ceilândia e Samambaia.

O grande problema é que, sendo o ponto final de uma quantidade enorme de linhas de ônibus, a rodoviária é um verdadeiro labirinto. Embora as baias onde param os ônibus sejam fixas para as linhas, o terminal é muito amplo e, para uma pessoa cega que precisa de referências para caminhar, é muito difícil localizar a baia correta para tomar o ônibus que se deseja. Mesmo para mim, que conto com a ajuda de minha cadela guia Mully, encontrar o local certo para pegar o ônibus é um desafio. Com Mully, eu consigo andar perfeitamente na rodoviária, sem esbarrar nos transeuntes ou nos obstáculos. Mas isso não é o bastante. Como os terminais são muito semelhantes e como várias linhas me levam até a rodoviária, eu sempre chego à estaçção por lugares diferentes. Assim, o trajeto do local onde desembarco ao outro, onde tomarei o ônibus para o destino final, é sempre diferente, o que não permite que a minha companheira estabeleça um padrão de trajeto.

Assim sendo, eu preciso de auxíliio de outras pessoas para localizar a baia onde está estacionado o ônibus que desejo. Tenho então dois problemas. Por mais incrível que possa parecer, não existe um funcionnário sequer na rodoviária destinado a prestar assistência, dar informações ou conduzir pessoas que necessitam de auxílio. Me lembro de apenas uma vez em que encontrei um policial militar que me indicou o local que eu procurava. Não existindo um profissional para prestar essa ajuda, recorro ao povo brasiliense que, segundo os anúncios de TV dos 50 anos, são pessoas solidárias e prestativas. Infelizmente, os anúncios se equivocaram. Para não ficar andando sem rumo, paro em um determinado local e tento sinalizar para os que estão passando, mas só depois de muita insistência consigo atrair a atenção de alguém. Pergunto então onde posso tomar determinada linha de ônibus. A resposta que obtenho é, geralmente, genérica. "Você vai ter que voltar", me responde alguém. Mas será que ela sabe de que direção eu vim para dizer isso? "É do outro lado", diz outro e "Você pode seguir reto e lá na frente perguntar de novo", emenda mais um.

Na tarde de ontem, quinta-feira, ia eu para o trabalho e o fato se repetiu. Depois de desembarcar do ônibus que vinha da avenida W3 Norte para a rodoviária, fui perguntar para descobrir onde estava o ônibus para a Esplanada dos Ministérios. Só que, dessa vez, a coisa foi pior. As duas pessoas que me responderam disseram não saber. Uma delas teve a idéia de me levar a um dos balcões onde ficam os despachantes e fiscais das empresas de ônibus. De fato, o fiscal sabia onde eu deveria ir, mas afirmou que não poderia me conduzir até lá, já que estava por demais ocupado. Deu-se aí o seguinte diálogo:
- O senhor pode ir andando até o final e virar à direita. O ônibus para a Esplanada vai estar logo à frente, o senhhor vai ver lá...
- Amigo, acho que você não percebeu que eu sou cego. Existem várias baias lá. Como eu vou encontrar a baia correta? Será que não há ninguém aqui que possa prestar esse serviço, nenhum guarda, nada?
- É, a rodoviária é complicada mesmo. Mas eu não posso sair daqui.

Ao fim e ao cabo, depois de alguma insistência minha, ele designou um dos despachantes para que me conduzisse até o local onde estava o ônibus para a Esplanada dos Ministérios. O resultado disso foram mais de dez minutos entre a busca por uma ajuda e a chegada ao ônibus. Se eu tivesse chegado ao local certo logo depois de desembarcar do primeiro ônibus, eu teria pego o carro anterior e chegaria ao trabalho 15 minutos antes. Felizmente, não me atrasei, mas as consequências dessa dificuldade criada na rodoviária poderiam ser bem piores, estivesse eu em cima da hora.

Enfim, até aqui, não consegui descobrir onde está a tal solidariedade dos brasilienses. Mas, como dizem também que Brasília é a capital da esperança, eu, que sou um otimista por escolha, tenho esperança de que, com o tempo de convivência, eu venha a descobrir um lado do brasiliense que, para mim, ainda está oculto.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Combustível para a semana

Na tarde passada, eu disse, no meu Twitter, que um fim de semana agradável é um excelente combustível para se começar uma nova semana. E é mesmo. Para quem mora sozinho, como é meu caso até que minha esposa se transfira definitivamente para Brasília, o fim de semana costuma ser uma grande tortura. A gente chega a pedir pela chegada da segunda-feira, para estar novamente na ativa, conversando, vendo gente, trabalhando e se sentindo útil.

Mas essa não deve ser a perspectiva das coisas. Assimm como existem os preguiçosos, existem os que acham no trabalho o escape para os problemas do dia-a-dia, inclusive a solidão dos fins de semana. E isso é tão ruim quanto a malandragem. É muito bom gostar de trabalhar, ter prazer no que se faz e gostar da companhia dos colegas, mas é igualmente salutar desejar o fim de semana, curtir a sexta-feira como aquele momento que antecede algo muito especial, ou seja, um tempo para relaxar, fazer exclusivamente o que se tem vontade.

Foi o que me sucedeu na semana passada. Tão logo soube que minha amiga, tão chegada que a chamo de irmã, Chiara Quintão, repórter da Agëncia Estado, viria passar o fim de semana em Brasília, fiquei animadíssimo com a chegada do sábado e do domingo. Sabia que haveria bom papo, recordações muito especiais do nosso tempo de faculdade, muita risada e todos os ingredientes de um encontro entre pessoas que nutrem um grande carinho uma pela outra.

Chiara e eu nos tornamos amigos graças a uma entrevista que ela fez comigo. Éramos ambos alunos de jornalismo na UFMG e ela estava pautada para uma matéria sobre a vida acadêmica de pessoas com deficiência. Ela queria informações sobre adaptação de material, convivência com os colegas e professores, barreiras arquitetônicas, enfim, tudo que permeava a vida do estudante com deficiência dentro da universidade. A entrevista se tornou um grande bate-papo de horas, cuminando num acerto para que almoçássemos juntos no dia seguinte. Além de Chiara Quintão e eu, estavam no almoço a Fernanda Lima e a Piedra Magnani, a primeira também estudante de jornalismo e a segunda de radialismo. Essa se tornou a turma fixa do almoçço no famoso bandejão do campus universitário da Pampulha, em BH. Sempre vinham os agregados, uma turma que, vez por outra, estava com a gente. Mas o "Quarteto Fantástico" ficou tão ligado que a gente sentia profundamente se algum de nós faltasse ao compromisso.

Foram essas histórias que fizeram nosso fim de semana tão divertido. Chiara me apresentou alguns amigos que moram em Brasília, o que também foi muito importante, para que eu amplie o meu leque de contatos aqui na capital da república. E, no mais mineiro dos jeitos de ser, contamos a eles as aventuras que vivemos na faculdade, rindo muito tanto dos momentos engraçados quanto dos mais difíceis. Afinal, eles eram difíceis naquela época, mas agora já se tornaram passado e felizmente podemos rir deles também.

Enfim, posso dizer que o meu fim de semana foi especial, tanto por rever minha irmãzinha por adoção mútua, como por conhecer gente nova aqui no DF. Isso mostra que, aos poucos, as coisas vão se ajeitando. Mudar de uma cidade para outra, como eu fiz, é sempre muito difícil. Mas, quando começamos a estabelecer novos laços, novas amizades, as coisas começam a parecer menos complicadas do que pensávamos a princípio.
É por isso que acordar, em plena manhã de segunda, foi muito agradável. Na minha mente, a boa sensação de gostar do que se faz e ir feliz para o trabalho, mesclada às boas lembranças de um fim de semana bem vivido. E vamos em frente!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

De Aristóteles a Madonna, feriado é para celebrar

Tem gente que pensa que um feriado na quarta-feira, como foi o último 21 de abril, é uma maravilha. Afinal, é uma pausa para relaxar, ir ao clube, promover um encontro entre amigos ou simplesmente não fazer nada e ficar de pernas para o ar, em pleno meio de semana. Outros vão no sentido contrário e praguejam contra o feriado na quarta-feira. Ora bolas, por que não é na terça ou na quinta, que nos dá a oportunidade de, como dizem os lusitanos, fazer a ponte, ou como dizemos aqui deste lado do Atlântico, enforcar a segunda ou a sexta, conforme o caso?

Na edição da revista Veja de 2 de novembro de 1994, um dia de finados que caiu numa quarta-feira, Jô Soares, que não sei se defino como humorista, escritor, apresentador, articulista ou tudo isso junto, publicou um dos seus artigos mais memoráveis de sua trajetória como colunista do periódico. No texto, Jô Soares dizia que o feriado na quarta-feira deixa as pessoas em dúvida. Afinal, enforca-se a segunda e a terça que precedem o feriado ou a quinta e a sexta que vêm depois dele? O colunista dava a solução. Para acabar com o dilema, basta enforcar a segunda e a terça, descansar no feriado propriamente dito e enforcar a quinta e a sexta! Assim, tira-se a semana de folga e acaba-se com a dor de consciência. Aliás, dizem que essa foi a solução adotada por alguns políticos...

Mas e os que não têm como enforcar coisa alguma e têm que bater ou assinar ponto e cumprir jornada de trabalho? Será que esses devem aplaudir ou vaiar o feriado na quarta-feira? Sinceramente, acho que feriado é sempre feriado e temos que comemorar. Não é por acaso que uma das canções de maior sucesso de Madonna diz: "Se tivéssemos um feriado/ Tirar um tempo para celebrar/ Um dia que fosse fora da rotina/ Seria tão maneiro!/". Mas, Montanha, você está citando a Madonna para escrever um artigo? Sim, estou. Madonna, a mãe da Lourdes Maria. Ela mesma!

Mas se você acha que Madonna é indigna de ser citada em qualquer coisa que não seja uma danceteria, ou ainda, se você é como alguns artistas que se acham supremos e que afirmam que o sucesso da Madonna é a prova da infinitude da burrice humana, vou destilar aqui um pouco de filosofia. Então segura que lá vai!

Uma das afirmações mais conhecidas do filósofo grego Aristóteles diz respeito ao ócio. Isso mesmo: a folga, o ficar à toa. Segundo ele, não pode existir filosofia sem o ócio, ou seja, para refletir sobre o homem e tudo que o cerca, para criar conceitos, para exercitar livremente a arte de pensar, o sujeito precisa estar livre do peso do trabalho. Trocando em miúdos, só tem tempo para refletir quem não precisa trabalhar. Para Aristóteles, alguns tinham que trabalhar para que os outros pudessem se libertar desse peso e exercer a filosofia.

Voltando ao nosso dilema do feriado na quarta-feira, não há dúvida de que ele precisa ser celebrado. Seja para um tempo de contemplação, meditação, leitura, seja para fazer festa e jogar conversa fora, um feriado na quarta-feira é sempre um grande presente.

Vejam o meu caso: saí de Brasília no vôo das 6h30 do feriado e fui para BH, minha deliciosa terra, onde minha esposa ainda está morando por questões de trabalho. Além de passar o feriado com ela, encontramos alguns amigos muito chegados em um churrasco. Deu tempo de visitar meu sogro, que estava internado na semana passada, mas, graças a Deus, já deixou o hospital. Saindo do hospital, tivemos tempo de tomar um sorvete e, ao chegar à casa de minha sogra, onde passaria a noite, uma caçarola italiana deliciosa estava à minha espera! Pode ser que quem fala mal de sua sogra tenha lá suas razões, mas eu, como fica claro nesse relato, não tenho o que reclamar da minha! No dia seguinte, foi só tomar o avião cedinho e voltar para Brasília e para o batente.

Viram quanta coisa se pode fazer num feriado de quarta-feira? Por isso, devemos comemorá-lo, sempre. De mais a mais, como disse minha esposa, já inventaram o avião! Graças a ele, deu para fazer tudo isso em um dia, numa cidade a mais de 700 quilômetros de onde moro. E, convenhamos, nunca foi tão barato voar. Portanto, no próximo feriado que cair numa quarta-feira, faça o máximo de coisas legais que você conseguir e comemore, comemore muito!

domingo, 25 de abril de 2010

E não é que os chamados pequenos engrossaram?!?!

Se alguém ainda achava que as finais dos campeonatos paulista e mineiro, os principais a envolver times da série A contra times da série B do Brasileirão, seriam favas contadas em favor das chamadas equipes de ponta, teve uma agradabilíssima surpresa, ao menos do ponto de vista de quem gosta de futebol de qualidade. É verdade que Atlético MG e Santos, os representantes da série A, saíram vencedores. Mas a derrota foi vendida a peso de ouro pelos adversários Ipatinga e Santo André, respectivamente. Aliás, até o placar foi o mesmo: 3x2, tanto para o Peixe como para o Galo.

Ipatingão

Na final mineira, embora o Atlético tenha sido superior ao Ipatinga durante a maior parte do jogo, o Tigre do Vale do Aço chegou algumas vezes com muito perigo ao gol adversário, fazendo até uma certa pressão em alguns momentos, com sequências de ataques muito bem articulados. Tanto que foi o Ipatinga o time a abrir o marcador, com mais uma demonstração de dificuldade da defesa do Atlético quando o assunto é a bola aérea. Jogada manjada, de cobrança de escanteio, mas a defesa do Galo caiu novamente.

O gol deu uma certa desarrmada no Atlético, que acabou reencontrando seu bom futebol depois de empatar a partida, graças a um pênalte desnecessário cometido pelo goleiro Douglas, do Tigre. No segundo tempo, o Galo começou pressionando e virou, mas o Ipatinga não se deu por vencido e correu atrás do empate, o que acabou se concretizando. Mas a tarde era do time de BH, que desempatou a partida e garantiu a vitória, ampliando a vantagem que já tinha para a decisão do campeonato mineiro (o Galo joga por dois empates ou vitória e derrota pelo mesmo placar). No jogo de volta, no Mineirão, no próximo domingo, o Ipatinga precisa vencer por dois gols de diferença para colocar a mão no título.

Pacaimbu

Já na final do Paulistão, o que se viu foi nitidamente um jogo de dois tempos, um para cada lado. Jogando com muita seriedade e muito bem postado em campo, o Santo André não só conseguiu neutralizar a afamada máquina de jogar futebol dos chamados Meninos da Vila, como chegou a assustar o Peixe logo no começo, quando perdeu dois gols que poderiam ter até mudado a história do jogo. No primeiro tempo, não se viu praticamente nada produzido por Neimar e Robinho. E assim o placar do primeiro tempo fez justiça ao melhor futebol apresentado pelo time do ABC Paulista, que abriu o marcador e foi para os vestiários vencendo a partida.

Mas o time da Vila Belmiro para fazer gols é como boiada na frente da porteira: se você abre a porteira para passar um boi, com certeza os outros vão passar também. Ou seja, não se pode levar o primeiro gol do Santos. E o Santo André, mesmo segurando bem o jogo, acabou sofrendo o primeiro gol, logo no início do segundo tempo. E onde passa um... isso meso! Passaram mais dois! E foi assim que o Santos, mesmo sem Neimar, que saiu no intervalo com dificuldades para enxergar por ter sofrido uma pancada no olho, mostrou sua superioridade e chegou aos 3x1. O time do ABC ainda reagiu e fez um segundo gol, mas a vantagem do Santos é a mesma do Atlético MG, ou seja, o Peixe só perde o título se for derrotado por dois gols de diferença no próximo jogo, que será também no Pacaimbu.

Expectativa

Mas o que os que gostam de futebol estão aguardando mesmo é o confronto dos dois melhores ataques deste início de temporada, exatamente o Santos e o Atlético MG. O primeiro, chegou a fazer dez gols num só jogo e venceu times conhecidos do grande público como o Guarani de Campinas por resultados impressionantes. No caso do Guarani, 8x1 no jogo de ida pela Copa do Brasil. Já o Galo chegou a fazer 12 gols em dois jogos na mesma semana, somados os resultados da Copa do Brasil e Campeonato Mineiro. Há mais um componente emocionante nessas oitavas de final da Copa do Brasil: Wanderley Luxemburgo, que não saiu bem quisto da Vila Belmiro pelos fracos resultados do Santos em 2009, certamente quer, e muito, vencer os meninos que, digamos, ele ajudou a criar. Fato é que esses 180 minutos de futebol entre o Galo e o Peixe, 90 nesta quarta-feira, às 21h50, no Mineirão, e os outros 90 na outra quarta-feira, na Vila Belmiro, têm tudo para figurar entre os jogos mais emocionantes do futebol brasileiro dos últimos tempos. Não nos iludamos: nem Santos nem Atlético são times espetaculares, mesmo o Santos sendo hoje um time de mais show do que o Atlético. Mas, se as duas equipes entrarem em campo mostrando o que sabem, respeitando a disciplina imposta por seus treinadores e jogarem sério, teremos realmente dois jogos espetaculares. Que assim seja!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Promoção da Nextel: sem limites para descumprir o próprio regulamento

Durante a segunda quinzena de março e a primeira de abril, a empresa de telefonia móvel Nextel lançou uma promoção tendo o vocalista dos Paralamas do Sucesso, Herbert Vianna, como garoto propaganda. Muitos devem se lembrar de ter visto na TV dois anúncios, um com locução e uma fala do artista no final e outro totalmente feito por Vianna, em que o desafio de sua vida a partir do acidente que o tornou usuário de cadeira de rodas, tendo que superar limites dia após dia, era comparado ao serviço da operadora, que oferecia, digamos, uma comunicação sem limites. Uma campanha muito criativa, vale ressaltar.

Participar da promoção que fazia parte da campanha era uma tarefa bem simples, ao menos para quem soubesse cantar minimamente afinado, e sem fazer feio diante das câmeras. Pelo regulamento da promoção, a pessoa deveria fazer um vídeo em que aparecesse cantando a música "Lanterna dos Afogados", dos Paralamas, postar o material filmado no site You Tube, fazer sua inscrição no site da promoção informando o link do vídeo e aguardar até que a empresa enviasse o link para que o dono do vídeo divulgasse a promoção entre os amigos e pedisse votos para o seu trabalho. Ainda segundo o regulamento, a cada semana da promoção, os dez vídeos mais votados seriam julgados por uma comissão designada pela Nextel e empresas parceiras, de modo que o vídeo vencedor de cada semana sairia dentre esses dez. O regulamento estabelecia ainda que os vídeos que não vencessem em uma semana continuariam sendo votados e poderiam sair vencedores nas semanas seguintes. Como prêmio, os vencedores das quatro semanas da promoção receberiam uma guitarra autografada pelo Herbert Vianna, da mesma marca e modelo utilizados por ele no show, e um convite especial para uma apresentação dos Paralamas do Sucesso em local a ser definido após o fim da promoção.

Como a promoção não pedia nenhuma mirabolância, já que fazer um vídeo atualmente é uma coisa muito simples e já que eu não me considero desafinado e, sem falsa modéstia, achei que poderia dar até uma boa interpretação a uma canção da qual gosto muito, decidi participar da promoção (clique aqui i assista ao vídeo). Cumpridas as exigências e feita a inscrição, começaram os problemas. Embora a Nextel informasse, na confirmação da minha inscrição no site, que enviaria o link para a votação dentro das próximas 24 horas, isso só veio a acontecer quase 48 horas depois da inscrição. Não dei tanta importância ao fato, julgando ser um problema operacional corriqueiro e que não afetaria tanto assim a votação, desde que eu enviasse o link aos meus amigos e mobilizasse o maior número possível de pessoas para votar. Foi o que fiz tão logo recebi o e-mail da promoção com o link. Como não havia proibição de votos múltiplos pela mesma pessoa e o site não fazia restrições à votação pelo mesmo IP, recomendei aos meus amigos que votassem o quanto conseguissem, e estou certo de que os demais participantes da promoção fizeram o mesmo. Eis aí a primeira falha no sistema de votações. Como não havia restrições a votos pelo mesmo IP e como não era exigida nenhuma confirmação para o voto, algo que provasse que o voto era realmente de uma pessoa e não feito a partir de um programa de computador, a porteira ficou aberta para quem utilizasse esse tipo de ferramenta para atribuir milhares de votos de uma só vez a um determinado candidato. De minha parte, preferi distribuir mensagens via e-mail, Orkut e listas de discussão e pedir aos meus amigos que gastassem os dedos na frente do PC, clicando o quanto pudessem para colocar meu vídeo nos top 10 da semana.

A estratégia funcionou rápido. Na manhã de quinta-feira, 8 de abril, quando os meus "correligionários" começaram a trabalhar, meu vídeo chegou ao segundo lugar. No decorrer do dia, perdi várias posições e cheguei ao 29o lugar. Na noite de quinta e durante toda a sexta-feira, as posições subiam e desciam muito, mas acabei o dia em oitavo lugar. No sábado, fiquei sempre entre os top 10, até que, até para minha surpresa, cheguei ao primeiro lugar na madrugada de domingo. Mantive a posição durante boa parte do dia, até que veio a outra surpresa. No meio da tarde, enquanto eu pensava que, mesmo não ficando em primeiro, poderia me sustentar bem entre os top 10, fui informado por um amigo que meu vídeo estava em 61o lugar. Como dizemos lá em Minas, pera aí: como assim, cair 60 posições em meia hora? Deve haver algum erro. Mas não havia, ao menos não na indicação da posição. Por mais que pressionássemos F5 e atualizássemos a página, a minha posição continuava lá, em 61o lugar. Depois, fui informado de que eu havia chegado até ao 72o lugar, mas não testemunhei o fato.

Mas o leitor pode estar se perguntando: e você, o principal interessado, não estava votando? Eis aí o segundo grande problema do processo desenvolvido pela Nextel. Para votar, era preciso clicar no quadradinho verde à direita do vídeo. Ocorre que o tal quadradinho verde não tinha qualquer etiqueta que fosse percebida pelos programas de leitura de tela que nós, cegos e pessoas com baixa visão, utilizamos para acessar o computador. Assim, a única coisa que eu pude fazer foi pedir aos meus amigos que se esforçassem em dobro, para que pudessem votar também por mim. Isso mesmo! Eu não pude votar no meu próprio vídeo.

Quando eu me vi em 61o lugar, já começando a duvidar da lisura do processo de votação, mas ainda com esperança de vencer, disparei mais e-mails e mais mensagens no Orkut para que os meus amigos voltassem a se dedicar e votar o quanto pudessem até a meia-noite de domingo para segunda, 11 para 12 de abril, que era a hora marcada para o encerramento da votação. Deu certo mais uma vez. Meu vídeo foi ganhando posições, de modo que estava em 17o lugar às 21h30, em sétimo às 22h e chegando ao terceiro lugar às 22h30, mantendo a posição às 23h. Pensei comigo mesmo que estávamos salvos. Afinal, depois de recuperar tantas posições nesse período, não era possível que ficássemos fora dos top 10. Depois das 23h30 de domingo, cheguei a figurar em segundo lugar. Enfim, era só esperar a lista final dos dez vídeos e torcer para que a comissão julgadora escolhesse o meu trabalho. Vale lembrar que eu me inscrevi apenas na quarta etapa da promoção, de modo que só concorri uma vez. Pelo regulamento, o vencedor da quarta semana, da qual eu estava participando, seria conhecido na terça-feira, 13 de abril, exatamente 24 horas depois do fim da votação.

Por volta das 23h47 de domingo, dia 11, começaram os problemas que, definitivamente, me fizeram duvidar totalmente da integridade do processo e, por conseguinte, dos organizadores da promoção. Depois de estar praticamente inalterada desde as 22h30, a lista dos top 10 que aparecia no site estava mudando a cada dois minutos. Às 23h50, meu vídeo ainda aparecia entre os top 10, mas já em nono lugar. Estranho? Sim, mas não é tudo. A própria lista sofria variações tais que pessoas que não estavam figurando entre os top 10 apareciam agora em segundo lugar. Às 23h53, a lista era totalmente diferente da anterior e, como num passe de mágica, meu vídeo não estava mais listado entre os top 10. Às 23h56, a lista dos top 10 se tornou indisponível e não mais retornou ao site da promoção. Segundo os meus amigos que estavam votando, por volta de 23h48, já não era mais possível votar e os 12 minutos antes da meia-noite foram uma sussessão de alternâncias na lista dos top 10 até o seu desaparecimento do site. Isso eu próprio comprovei, porque, antes, ao acessar o link do meu vídeo, eu conseguia assistir, mesmo não podendo votar. Depois das 23h48, isso não era mais possível. O pior é que a lista dos top 10 não apareceu de novo e eu não poderia saber com certeza se, no final das contas, meu vídeo iria ou não ser um dos dez analisados pela comissão julgadora.

O negócio então era torcer e esperar a terça-feira quando, pelo regulamento, o resultado seria conhecido. Mas me parecia estranho o fato de não sabermos quem eram os top 10. Também pelo regulamento, os dez vídeos mais votados seriam submetidos a uma auditoria para evitar que uma votação por meio fraudulento classificasse qualquer trabalho. Pensei que, uma vez concluída a tal auditoria, a lista dos top 10 voltaria para o site da promoção e seria possível saber quais seriam os dez vídeos julgados pela comissão.

À 1h20, portanto 80 minutos depois do encerramento da votação, voltei ao site da promoção para saber se a lista dos dez mais votados já havia sido colocada no ar. A lista não estava lá, mas... mas... mas o vencedor da semana sim, já havia sido anunciado! Mais uma vez, minha frase foi a mineiríssima "pera aí"! Deixa eu entender: quer dizer que, em 80 minutos ou menos, a tal comissão julgadora, que certamente já estava reunida, analisou criteriosamente dez vídeos, submeteu-os a uma auditoria técnica para ter certeza de que nenhum dos autores havia fraudado o processo de votação e chegou a um veredito, a ponto de publicar o resultado no site? Ora, se eu acreditar nisso, voltarei a crer na existência do Bom Velhinho e nos contos de fada que meus pais me narravam antes de dormir!

Indignado com as minhas suspeitas, agora convertidas em certeza, de que o processo de escolha dos vencedores na promoção da Nextel não passava de um jogo de cartas marcadas, comecei a vasculhar a internet atrás de pessoas que também pensassem assim. Me deparei então com a mensagem de um internauta dirigida ao site "Reclame Aqui", provando que era possível atribuir qualquer quantidade de votos de uma só vez a qualquer candidato, bastando para isso rodar um script em um servidor PHP. O internauta chegou inclusive a escrever linha por linha da rotina que poderia atribuir, por exemplo, mil votos a um dos vídeos inscritos na promoção. A Nextel chegou a responder, afirmando que havia corrigido o problema na quarta semana da promoção, limitando os votos a um por endereço IP. Nada mais inverídico! Se assim o fosse, meus amigos não teriam conseguido, clicando e dando F5 para atualizar a página, votar centenas ou até milhares de vezes no meu vídeo. O internauta desafiou a Nextel a mostrar o número de votos de cada vídeo, o que a empresa disse que se reservava o direito de não divulgar. É evidente, porque se tais números fossem divulgados, constataríamos as quantidades astronômicas de votos dadas a cada vídeo, o que comprovaria não só a possibilidade de votação repetida sem qualquer trava de segurança, como a continuidade da possibilidade de se votar por programas de computador, os chamados scripts.

Mas, mesmo diante da fragilidade do sistema, fica difícil acreditar que a própria Nextel ou as empresas parceiras não tenham influenciado no resultado do concurso, dadas algumas alternâncias absurdas nas posições dos vídeos concorrentes durante o processo de votação, como na tarde do domingo e nos minutos que antecederam o fim do prazo para votar. Como disse a um amigo alguns dias atrás, eu não me importo de ser enganado, desde que o enganador aja com inteligência, de modo que eu não perceba suas ações. Se, ao longo do domingo, dia final da votação, as posições fossem sendo trocadas aos poucos, de modo que o meu vídeo fosse perdendo posições gradativamente, eu acreditaria que a mobilização dos outros candidatos era melhor do que a minha e, portanto, eles realmente tinham mais força. Eu só lamentaria a derrota, mas a consideraria limpa. Mas, diante da maneira como os fatos se deram, não consigo, de modo algum, acreditar na lisura do processo de votação no qual se baseou o concurso. Me senti enganado, e de forma amadora.

Já disse no post de ontem e repito: como participante da promoção, tenho interesses a defender e vou defendê-los. Como jornalista, tenho a obrigação moral de estabelecer o contraditório em tudo o que publico. Assim, este blog está à inteira disposição da Nextel ou de qualquer outra empresa ou pessoa envolvida na organização da campanha "Não Tenho Limites", para que possam se manifestar e dar suas explicações. Ressalto ainda qe, sempre que eu apresentar réplicas a essas explicações, continuarei dando o direito à tréplica, porque creio ser assim que se faz um bom jornalismo e, embora este blog seja também de caráter pessoal, quero manter firme o compromisso que assumi ao abraçar essa profissão, da qual muito me orgulho.

Fica portanto para os meus leitores a minha versão dos fatos sobre a promoção da Nextel "Sem Limites com Herbert Vianna". Aguardemos o outro lado.

domingo, 18 de abril de 2010

Eu desapareço, mas não evaporo! Ah nóis aqui traveis!

Qualquer blogueiro que, logo após criar o seu tão sonhado canal de comunicação, fica duas semanas ausente, joga o blog no total descrédito com seus leitores. Ao menos essa é a lógica. Mas, como eu sei que tenho algum crédito para queimar com os meus seguidores, leitores e amigos, me dou o direito de achar que essa ausência não foi assim tão eterna, se é que o adjetivo da eternidade aceita advérbios.

Questões gramaticais a parte, estive realmente fora do ar por duas semanas; praticamente não respondi e-mails, não participei das listas de discussão que subscrevo, não twitei e deixei este espaço praticamente abandonado. As razões, uma diretamente ligada à outra, foram a minha participação na promoção "Não Tenho Limites", promovida pela empresa de telefonia móvel Nextel, e a frustração gerada ao suspeitar que a tal promoção era, na verdade, um jogo de cartas mais que marcadas.

Depois de passar uma semana enviando e-mails e mensagens no Orkut, twitando e entrando em contato com amigos no país inteiro e até no exterior, pedindo votos para o vídeo que eu havia inscrito na promoção, ver meu vídeo liderar a votação por quase 24 horas, cair 60 posições em meia hora, recuperar posições, chegando ao segundo lugar uma hora antes do encerramento da votação e ainda assim não ser classificado entre os dez mais votados, enfim, toda essa sussessão de fatos foi frustrante e me deixou um tanto arredio para com o meu computador nessa última semana. Estava usando o PC tão somente para escutar música e assistir vídeos, ou seja, fiz dele o meu tocador e a minha TV. Mas escrever, só mesmo no trabalho, porque é a minha obrigação e gosto de cumpri-la com muito afinco.

Mas agora, já refeito de tudo isso, é hora de tocar o barco adiante. Antes porém, vocês vão conhecer os pormenores de toda a história da promoção da Nextel, porque, mesmo sendo participante e portanto tendo interesses a defender, o meu depoimento a respeito não deixa de ser uma informação jornalística, inclusive porque quero dar à empresa a oportunidade do contraditório e este blog estará à disposição da Nextel quando e se ela desejar se manifestar. Mas há mais coisas acontecendo no meu cotidiano, no Brasil e no mundo que nada têm a ver com a promoção da Nextel. Brasília completa 50 anos no dia 21, e com um governador tampão eleito indiretamente pela Câmara Legislativa. A política esquenta com a aproximação das convenções partidárias, a novela das 8 está chegando à reta final (claro que eu vou falar de televisão neste blog, não tenha dúvida!), os campeonatos regionais entram na reta final, Sílvio Santos vem aí e a copa da África talvez também venha! Enfim, como diz um amigo de longa data desde os tempos da antiga primeira série, o mundo dá uma volta todos os dias. Então vamos girar com ele!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Mully na passarela!


No sábado passado, 3 de abril, fui a um casamento e, para fazer bonito com minha cadela guia Mully, pedi ao pessoal do pet shop que caprichasse no banho da moça. Eles fizeram mais: banho, perfuminho para cães e um lacinho roxo no pescoço, que deu à minha loirinha de quatro patas o status de modelo, digna dos melhores encontros do estilo dog fasion.

Gostei tanto do resultado que deixei-a repetir o modelito quando fomos à igreja, no domingo de manhã, e na segunda-feira, no primeiro dia de trabalho da semana. O sucesso foi total! Vejam e comentem o visual de Mully, a top model!

terça-feira, 6 de abril de 2010

As coisas não eram assim...

Até o momento, já foram registradas 77 mortes por causa das chuvas de ontem e hoje no Rio de Janeiro. E quando nos deparamos com tragédias como essa, começamos a fazer exercício de escatologia, prevendo que o mundo de fato está no seu fim. Nesses momentos, aparecem os que acham mesmo que a Terra caminha para os seus derradeiros dias e, no outro extremo, os que consideram os ambientalistas verdadeiros terroristas da ecologia e afirmam que a coisa não é tão feia quanto parece.

Não obstante as posições extremas de parte a parte, fato é que, quando olhamos para a história, percebemos que as tragédias - muitas delas causadas por fenômenos naturais - sempre aconteceram. O que muda, no entanto, é a frequência com que esses "incidentes", vêm ocorrendo. Quem não se lembra das cheias que arrazaram o sul do Brasil em 1983, ou do longo período que o nordeste ficou sem uma gota sequer de chuva, também nos anos 80? Mas esses fenômenos eram tão isolados que passavam semanas ocupanndo as primeiras páginas dos jornais. Atualmente, o que se vê é que os acontecimentos trágicos se sucedem, de modo que, mal a imprensa repercute um deles, o outro já está acontecendo e tomando o lugar de destaque nos noticiários.

Só no ano de 2010, tivemos os deslisamentos de terra em Angra dos Reis (logo na virada do ano, diga-se), os terremotos no Haiti, com mais de 250 mil mortos, e no Chile, que só não foi mais trágico porque o país é mais bem estruturado. Em São Paulo, foram mais de 30 dias com chuvas diárias, sempre causando alagamentos, destruição e morte. Agora, mal o mês de abril começa, o Rio de Janeiro vive mais um acontecimento provocado pelas chuvas, com esse gigantesco número de vítimas fatais.

Tentando não enveredar pelo caminho do senso comum, mas ao mesmo tempo tentando simplificar a discussão, três fatores são, se não determinantes, muito importantes para explicar o que está acontecendo no mundo. A ação da natureza, que está realmente mais dura, a incompetência das autoridades políticas, que, mesmo sabendo dos riscos que a população corre por causa dos fenômenos naturais, se mostram indiferentes, e a ação humana sobre a natureza, que está, sim, contribuindo para as mudanças climáticas que estamos experimentando. E, se pararmos para pensar, tudo isso se resume em um só fator: o homem.

Se alteramos a nossa relação com a natureza, não poderíamos esperar que ela agisse conosco como o fazia antes. Fora os terremotos, que dependem menos da ação humana, ocorrências como as grandes tempestades e os intermináveis incêndios nas florestas são resultado direto de nossa ação sobre o meio ambiente. E para completar, as providências que poderíamos tomar para minimizar os efeitos das tragédias naturais não são tomadas. O resultado é que esses fenômenos são cada vez mais frequentes e os seus efeitos cada vez mais devastadores. E se alguém pergunta: mas não foi sempre assim? Minha resposta é: não, as coisas não eram assim. E o mais preocupante é saber que ainda há quem diga que a Amazônia não foi tão agredida como se diz, como se o constante processo de degradação da floresta fosse apenas um conto de fadas.